setembro 29, 2010

setembro 19, 2010

setembro...





 o verão já partiu pela linha do horizonte. fica-nos a luminosidade de setembro, tons dourado muito esbatidos, sombras fortes e saudosas. cheiros de mar mais intensos com piados de gaivota  reconquistam a costa, enquanto as mãos, em braços recobertos de algodão branco, reencontram nos bolsos pequenas pedras ou mensagens escritas perdidas. 

não faço a despedida ao verão. eu nunca me despeço. adeus pertence à classe das minhas palavras proibidas, assim como despedir pertence à classe dos verbos proibidos. guardo os óculos no bolso para que se possa cumprimentar o vento. voltarão ao rosto, ampliando os olhos e a inquietação. 

não há tempo para um adeus. apenas a espera pelo outono que chegará breve, vestido a cores fortes. virão o aconchego das lãs, o fresco no rosto, os cabelos molhados.

saudade é a palavra que cobre completamente adeus e despedida.
outono, quando chegas?

[ka07@porto]

setembro 18, 2010

acerca de sapatos [Andreia C. Faria]

a escritora vai espreitando... a mão parece sair cuidadosamente de dentro de um rasgo em folha de papel pardo amarrotada, caída no chao...  tacteia novas sensações. no rasto dos dedos ficam castelos de palavras cheios de vida nos seus  salões...

a escritora volta em força e está na rua.

quero mais!

setembro 07, 2010

numa esquadra...

... o agente (trinta e poucos anos, bem parecido) consulta o meu b.i., completa as entradas no processo de uma certa participação, passou os olhos pela entrada da naturalidade,


évora(sé), évora 
... e pergunta--me:

- évora, (hesitação) é no distrito de (hesitação)(espera)....

... e olha para mim, baralhado. balão de pensamento sobre a minha cabeça:

évora fica no meu alentejo, oh morcão!!


... respondi com alguma condescendência, cinismo, e incredulidade.

setembro 06, 2010

Frankie Chavez

Ibéria [Peripécia Teatro]

agradável surpresa, que parece andar longe dos palcos do porto e arredores. 

a companhia Peripécia Teatro apresentou nos dias 2 e 3 de setembro, em Vila Real, o seu espectáculo Ibéria, a louca história de uma península, espectáculo originalmente produzido em 2004. 


os actores, um português e dois espanhóis, contam de forma engenhosa, artística, cómico-dramática, vários episódios da história comum aos países ibéricos **. são arrojados. não tomam partidos. críticos. não se pode dizer que seja comédia ligeira. mas o espectáculo, que vive dos próprios actores e alguns objectos, poucos, está magnificamente encenado. o movimento do corpo em alguns momentos em tom de performance arrojada e sincronizada, ocupa todo o espaço de um palco vazio. basta-lhes algum trabalho de luz. e o resto
são cerca de 75 minutos bem humorados. 

o texto é resultado da (excelente) criação colectiva dos próprios actores. 

se eles estiverem próximos, não deixem de espreitar o seu trabalho!

** batalha de salado; inês de castro; viriato e numancia; batalha de aljubarrota; descobrimentos; tratado de tordesilhas; dinastia filipina; o milagre.... e muitos bons pequenos "mais"

Janis e a Tartaruga: as palmas são para a Carla Galvão

"Janis e a Tartaruga" esteve em Matosinhos, em reposição, nos dias 2-4 de Setembro.



É verdade que  deixa plateias contentes, a aplaudir em pé, mas a meu ver as felicitações são maioritariamente dirigidas à actriz Carla Galvão pelo seu excelente trabalho. O texto, da autoria de Pedro Pinto e Filipe Pinto, baseia-se numa boa ideia mas falha na sua concretização. É óbvio nas escolhas contextuais e não explora significativamente a personagem e a música de Janis Joplin. A encenação de Luisa Pinto bem que podia dispensar as imagens projectadas. Gostei do carrossel de cadeiras. Gostei da mala. Não era necessário muito mais. A Carla preenche todo o palco.

Já antes, em Mil Olhos de Vidro, fiquei exactamente com a mesma sensação: os irmãos Pedro e Filipe Pinto partiram de uma excelente ideia, mas  falharam a concretização do texto, a concretização da peça.

Ainda assim, Janis e a Tartaruga provocou reacções no público do Constantino Nery. Em especial na cena em que Janis apanha a boleia de uma jovem que acabou de perder o namorado suicida - alguém lá para trás na sala esvaziou e voltou a encher a sua mala, completamente, para não ter de olhar para o palco -  e também na cena da boleia com o jovem branco, de fato preto, Bíblia no colo, e todo o discurso em torno do choque entre brancos e pretos - mas acho que os comentários se dirigiam aos adereços e às vestimentas de Janis na cena.

Enfim...

As minhas palmas foram maioritariamente para a Carla Galvão e é ela que eu felicito.
Continua com o bom trabalho!