fevereiro 22, 2012

[corso carnavalesco de 2012, ka@matosinhos]

carnaval, pândegas, ironias e feriados


notar que na mensagem escrita se escreve:
"o CARNAVAL FICA!" e não "os feriados ficam"
 (Foto: Dário Cruz, no Público)
carnaval | s. m. (francês carnaval, do italiano carnevale, de carnelevare, retirar a carne)  
1. Período de festas profanas de origem medieval, compreendido 
entre o dia de Reis e a quarta-feira de Cinzas 
2. Período que compreende os três dias que precedem a Quaresma. = ENTRUDO 
3. Conjunto de brincadeiras e festejos que ocorrem nesses dias
4. Grande divertimento ou festa. = FARRA, FESTIM, FOLGUEDO, FOLIA, PÂNDEGA


entrudo | s. m. (latim introitus, -us, entrada, começo) 
1. Período que compreende os três dias que precedem a Quaresma 
2. Conjunto de brincadeiras e festejos que ocorrem nesses dias 
3. Pessoa vestida ridiculamente 
4. [Portugal: Trás-os-Montes] Indivíduo obeso

quaresma | s. f. (latim quadragesima [dies], quadragésimo dia)  
1. Período de tempo compreendido entre a Quarta-Feira de Cinzas (inclusive) e o Domingo de Páscoa (exclusive)
(...)


feriado | adj.
1. Diz-se do dia em que se suspende o trabalho e as aulas, por prescrição civil ou religiosa.


já há muitos anos que sou defensora da abolição de alguns feriados, ou da sua movimentação no calendário, a fim de tornar a minha (de todos?) produtividade mais fluida. quais os feriados que verdadeiramente são festejados neste país, para além do natal, e ano novo? (feriado+sol+"T>23ºC"=praia) e todos os outros que recordo, não vejo razão para que não possam ser encostados ao fim de semana, sem que com isso se desvirtue a possibilidade de relembrar a nossa história, comemorar, reflectir sobre os diferentes propósitos, religiosos ou civis, de tais eventos.

ainda assim... há sempre uma pequena incongruência, ou ironia legislativa à espreita...

e a ironia é que a abolição de feriados é posta em acção em vésperas de carnaval/entrudo, sendo a abolição em si um verdadeiro entrudo (leia-se o significado 2. em cima), pois que o feriado que não era feriado, ou seja, o carnaval, aquele que era verdadeiramente aproveitado, comemorado e vivido, não viu a sua honra ser promovida (a feriado, entenda-se) nesta revolução legislativa, muito pelo contrário, viu-se alvo de atentado à sua existência, diminuindo-se a capacidade e disponibilidade dos cidadãos usufruirem desta...
  celebração, farra, festim, folguedo, folia, PÂNDEGA (leia-se o significado 4. em cima)

o dicionário da priberam não traz o significado religioso de quaresma (traz os significados vários botânicos), mas, se bem me lembro, é um período de sacrifícios (onde é que já vi isto, fora de contexto religioso?), de retirar a carne (leia-se o significado no topo) - qual carne se retira?  de limpeza, de reflexão, na preparação da chegada da páscoa, a comemoração do homem novo (puro, limpo, libertado) (vejo aqui mais uma série de coincidências desejadamente político-socio-económicas) (desejadas, mas sem data anunciada. como a chegada do Tal. chegar chegar, só a tRoikA chegou...)

ora, mais uma razão para celebrar o carnaval, não? PANDEGAR enquanto se pode (sem grandes gastos, claro, que o tempo não está para aventuras) celebrar, extravasar um pouco de loucura, para ter mais energia para enfrentar a soturnidade e as negatividade do quotidiano rotineiro em que nos querem imergir...

em suma:
fico muito triste com a despromoção total do carnaval. até me admiro com o facto desta medida ser promulgada nesta nossa sociedade consideravelmente dominada por uma moral paternalista e masculina: será que os machos latinos já tomaram consciência que vão deixar de ter desculpa para se colocarem em cima de saltos altos, de meia de lycra, cabeleira e postiços vários, a sua máscara preferida?

fevereiro 19, 2012

assalto de cascas ao P3 [susana blasco]


não é só por tratar de cascas... vale mesmo a pena espreitar o trabalho de Susana Blasco. simplicidade carregada de significado(s).



do P3:


Raptámos o seu pequeno-almoço cor-de-rosa e outras refeições delicadas. Acariciámos o Bonaparte e esmagámos duas ou três nozes. O mosaico de fotografias de @descalza é tão real que quase podemos tocar-lhe. “Passo muitas horas em frente ao computador. O Instagram é uma terapia para momentos aborrecidos”, disse ao P3 a designer gráfica Susana Blasco. “Por isso, a maioria dos temas que aparecem nas minhas fotografias são objectos próximos, coisas simpes e insignificantes que me rodeiam. São colagens de fotos ou de livros antigos. E, claro, partes do meu gato Bonaparte, o meu modelo favorito”. LOC

fevereiro 04, 2012

silk&soul [nina simone]

Cherish


I wish i knew how it would feel to be free...



[HuffPost - blackvoices pop culture, 5 feb 2012]

Maya Angelou: Nina Simone Spoke The Anguish Of Racial Prejudice

With Black History Month in full swing, this month also marks the 79th birthday (February 21) of Nina Simone. In addition to the celebration of Simone's date of birth is the re-launch of her official site, which launched last May under the guidance of her daughter, Simone (Lisa Simone Kelly).
...
Head over to the site on February 8 to view Dr. Maya Angelou's posting in its entirety.


fevereiro 03, 2012

vista com grão de areia [Wislawa Szymborska]

view with a grain of sand
Wislawa Szymborska
We call it a grain of sand,
but it calls itself neither grain nor sand.
It does just fine, without a name,
whether general, particular,
permanent, passing,
incorrect, or apt.

 Our glance, our touch means nothing to it.
It doesn't feel itself seen and touched.
And that it fell on the windowsill
is only our experience, not its.
For it, it is not different from falling on anything else
with no assurance that it has finished falling
or that it is falling still.

 The window has a wonderful view of a lake,
but the view doesn't view itself.
It exists in this world
colorless, shapeless,
soundless, odorless, and painless.

The lake's floor exists floorlessly,
and its shore exists shorelessly.
The water feels itself neither wet nor dry
and its waves to themselves are neither singular nor plural.
They splash deaf to their own noise
on pebbles neither large nor small.

 And all this beneath a sky by nature skyless
in which the sun sets without setting at all
and hides without hiding behind an unminding cloud.
The wind ruffles it, its only reason being
that it blows.

A second passes.
A second second.
A third.
But they're three seconds only for us.

Time has passed like courier with urgent news.
But that's just our simile.
The character is inverted, his hasts is make believe,
his news inhuman.

[tranlated by Stanislaw Baranczak and Clare Cavanagh, faber & faber, 1993]