novembro 25, 2012

noz portuguesa

[ka@outono 2012]

tenho de começar por declarar que sou uma consumidora diária de nozes. duas nozes ao pequeno almoço, entre flocos de trigo e arroz, com iogurte natural, sem qualquer adição de açucar, uma chávena de bom chá preto... é assim que começam a maioria dos meus dias. é um ritual já com anos. varia nos acompanhamentos de fruta (banana, diospiro, tiras finas de maçã, ou sumo fresco...). é uma rotina e repetição de que não consigo abdicar e que não consigo esgotar.

o último ano foi frustante em termos de nozes. foi o ano em que decidi não voltar a comprar nozes estrangeiras, cansada e frustrada por pagar a peso de ouro o refugo rançoso da produção de nozes internacional (normalmente nozes francesas ou californianas). e de noz portuguesa, nada! as grandes superfícies descuram a produção nacional. e eu provavelmente atrasei-me na visita ao comércio tradicional.

até que no início deste outono decidi-me a ir atrás da noz portuguesa por caminhos cibernéticos. cheguei a bom porto ao descobrir uma entrevista realizada por um periódico regional ao Sr. João Machado Teté, produtor de nozes em terrenos alentejanos (Monte da Raposinha, Beja). já com bons anos de experiência, o sr. Teté gosta de partilhar o seu conhecimento e entusiasmo sobre produção de noz. tem, para tal, um blog de nome Nozes e Nogueiras onde podem encontrar-se informações relevantes para produtores e consumidores de nozes produzidas em terreno português. muito prestável e fácil de contactar, deu-me ainda mais preciosas dicas de como encontrar bons lugares/produtores para satisfazer os meus apetites individuais. 

o meu agradecimento ao Sr. João Teté fica aqui bem assinalado, assim como a partilha da localização de toda esta informação, para todos os amantes de nozes que por aqui andam. 

ps: novembro é um excelente mês para descobrir noz "fresca" nas bancas das mercearias e pequenas superfícies. não lixiviadas podem armazernar-se durante meses!

paisagem passageira [hilde domin]

Tem de se poder partir
contudo ser como uma árvore:
Como se a raíz permanecesse na terra,
como se a paisagem passasse e nós ficássemos.
Tem de se conter a respiração
até que o vento amaine
e o ar desconhecido nos comece a envolver,
até que o jogo de luz e sombra,
de verde e azul,
nos mostre as estruturas antigas
e estamos em casa,
seja onde for,
e podemos sentar e apoiar-nos
como se fora à sepultura
da nossa Mãe.

[hilde domin, estende a mão ao milagre, Cosmorama 2006]

novembro 23, 2012

com saudades do calor e silêncio do majestoso Grand Canyon

[ka@Grand Canyon, South Kaibab trail, Maio 2012] 

... escarpas, despidas pela erosão, revelam marcas fortes do passado, num conjunto de estratos geológicos muito particulares (cor, estrutura, composição, origem...) que permitem revisitar cerca de 2 mil milhões de anos de históriauma das teorias propostas para explicar a formação do canyon, o oceano terá existido quando este pedaço de planeta se encontrava algures na linha do Equador, a 4000 km de distância(!), há 200 mil anos atrás. o que hoje nos é dado a conhecer resulta da dinâmica intrínseca do nosso planeta, da tectónica, e é alvo de teorias que merecem exploração na grandeza do Canyon, como a teoria “DUDE: Deposition, Up-lift, Down cutting, Erosion”.


... as culturas índias (tribos Havasupia, Hualapai, Paiute, Navajo e Hop) remontam a milhares de anos de Canyon, e nos últimos séculos cruzam-se perigosamente com a história de europeus e americanos. há lugares remotos aos quais só pode chegar-se por caminhadas de longas horas, ou pelo rio Colorado. para descobrir, histórias de aventureiros, exploradores, índios, políticos, e mineiros que marcaram a paisagem. exemplo particular,  os aventureiros irmãos Kolb que deixaram um testemunho muito importante sobre a vivência do Canyon no início do século XX, justificando uma visita ao Estúdio de fotografia Kolb instalado com vista privilegiada sobre o trilho Bright Angel, onde podem visionar-se filmes registados com técnicas inovadoras para a época e em condições bastante complicadas, como aquelas oferecidas pelos rápidos do rio Colorado. 

... o Canyon tem muitos outros espectadores para além dos humanos: imponentes veados-mula, inúmeros esquilos; corvos perscrutadores; falcões peregrinos e condores (espécie protegida e em pequeno número) a patrulhar e a identificar restos mortais das suas presas; gaios-azul, corvos, e os impressionantes andorinhões em voos de alta velocidade.

... desafia turistas e amantes da natureza. é visitado por cerca de 4 milhões de visitantes anuais, mas a estatística diz que apenas 1 a 5 % dos visitantes desce abaixo da linha do topo. o tempo médio de visita ao parque natural é de cerca de 6h, mas podendo, fica-se muito mais tempo. visitar o Canyon implica percorrer os seus caminhos, descer e subir os trilhos que recortam as encostas dos desfiladeiros em repetidos zig-zag vencendo a variação brusca de elevação, respeitando a imponência e a severidade que a natureza ali nos apresenta. dispondo de mais tempo pode descobrir-se o rio Colorado em caminhadas mais longas, de alguns dias, passando pelos ranchos que apoiam os caminhantes na base do desfiladeiro, outrora pontos de apoio para mineiros e exploradores.
regressa-se com vontade de voltar, trazendo no bolso o silêncio colorido dos desfiladeiros, pontuado com sussurros de vento, e pequenos pedaços de rocha.

[ka@Grand Canyon, South Kaibab trail, Skeleton Point, Maio 2012]

novembro 18, 2012

catalisadores vitais

... Only in proportion as we are desirous of living more do we really live. Obstinately to insist on carrying on within the same familiar horizon betrays weakness and a decline of vital energies. Our horizon is a biological line, a living part of our organism. In times of fullness of life it expands, elastically moving in unison almost with our breathing. When the horizon stiffens it is because it has become fossilized and we are growing old.


The dehumanization of art, José Ortega y Gasset, 
Anchor Books, 1956


árvore capitalista

[ka@porto,nov12]

sonhos [Honeymoon Suite, Suzanne Vega]

não é novidade que Suzanne Vega é uma contadora de histórias nata, com olho para pequenos detalhes. 
sempre adorei esta letra. o contexto, a situação, a fotografia. musicalmente, não é das minhas preferidas. uma candidata a saltar de faixa. se pudesse, dar-lhe-ia outra roupagem completamente diferente.  

no entanto, tendo passado um fim de semana de sonhos nocturnos (não pesadelos) com muitas -muitas mesmo- visitas inesperadas, seguidos de enxaqueca diurna, era impossível não a recordar:


The ceiling had a painting on it / In our room in France 
So we were living underneath / Some angels in a dance 
My husband was not feeling well / And so we went to bed 
He woke up complaining / Of an aching in his head 

He said a hundred people / Had come through our room that night 
That one by one the old and young / Asked if he was all right 
One by one the old and young / Lined up to touch his hand 
He spent the night explaining / They had come to the wrong man 

The concierge was less than helpful / When we asked her the next day 
With coffee and a magazine / We went to the desk to pay 
“What happened in that room?” he asked / “A death or something strange?” 
She smiled at him politely / And returned to him his change 

Well, what I’d like to know / And this will be a mystery 
Is with all the people in that room / Why none appeared to me? 
When we sleep so close together that / Our hair becomes entwined 
I must have missed that moment / In the gateway to his mind

(Nine Objects of Desire, 1996)

Honeymoon Suite by Suzanne Vega on Grooveshark