" Ela caminha, escreve Peter Morgan.
Como não voltar? É necessário perder-se. Eu não sei. Tu aprenderás. Eu queria uma indicação para me perder. É necessário não ter segundas intenções, dispor-se a não mais reconhecer nada do que se conhece, dirigir os passos para o ponto mais hostil do horizonte, espécies de vasta extensão de pântanos que mil taludes atravessam em todos os sentidos não se sabe porquê. ..."
[O Vice-Cônsul, Marguerite Duras, Difel]
um excelente primeiro parágrafo de livro, que trago perto desde longa data, hoje revisitado a propósito da proposta Indicação para se perder, de Teresa Coutinho e Constança Carvalho Homem, na Mala Voadora, Porto.
kasca de noz
abril 13, 2014
maio 21, 2013
toques/influências de Wisława Szymborska [2/2]
(...)
True love. Is it really necessary?
Tact and common sense tell us to pass over it in silence,
like a scandal in Life's highest circles.
Perfectly good children are born without its help.
it comes along so rarely.
Let the people who never find true love
keep saying that there's no such thing.Their faith will make it easier for them to live and die.
[ka@2013,krakow]
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toques/influências de Wisława Szymborska [1/2]
View with a Grain of Sand [ka@2013,krakow]
We call it a grain of sand,
(...)Our glance, our touch means nothing to it.
It doesn't feel itself seen and touched.
And that it fell on the windowsill
is only our experience, not its.
For it, it is not different from falling on anything else
with no assurance that it has finished falling
or that it is falling still.
The window has a wonderful view of a lake,
but the view doesn't view itself.
It exists in this world
colorless, shapeless,
soundless, odorless, and painless.
(...)
And all this beheath a sky by nature skyless
in which the sun sets without setting at all
and hides without hiding behind an unminding cloud.
The wind ruffles it, its only reason being
that it blows.
A second passes.
A second second.
A third.
But they're three seconds only for us.
Time has passed like courier with urgent news.
But that's just our simile.
The character is inverted, his hasts is make believe,
his news inhuman.
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janeiro 15, 2013
janeiro 08, 2013
janeiro 05, 2013
a casa de georgienne [c.teatro Musgo]
rua da Alegria, 953
Porto
por detrás da porta 953 da rua da alegria encontra-se um belo casarão antigo, em bom estado de conservação, onde coabitam 5 moradores que nada mais têm em comum do que o senhorio. somos levados pelos espaços com a curiosidade de quem descobre a fonte dos sons da casa, as dinâmicas, as diferenças, os pontos comuns. vivem em comunidade. ou talvez não... uma produção divertida, criativa, despretenciosa, com apontamentos bem apanhados de situações reais de partilha de espaços - ou talvez não! há estereótipos, mas são muito bem-vindos para os objectivos do colectivo.
esta recentemente formada pequena companhia sediada em parte incerta do porto, como tantas outras pequenas companhias, aposta em não deixar de fazer teatro na ausência de apoios financeiros.
para ver, espectáculo em reposição, de 3 a 13 de janeiro 2013, (excepto 2ªfeira), 22h
trabalho colectivo de : Joana Moraes, Ana Vargas, Gilberto Oliveira, Joana Carvalho, João Pamplona, Sara Costa, Pascal Ferreira(cartaz) - companhia de teatro MUSGO (outubro 2012).
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teatro e dança
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dezembro 31, 2012
dezembro 28, 2012
casa...
... local de acolhimento, aconchego, familiaridade, sussurros,
cumplicidades, chá e bolo de chocolate com nozes ...
cumplicidades, chá e bolo de chocolate com nozes ...
[ka@guincho, dez2012]
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dezembro 19, 2012
dezembro 01, 2012
novembro 25, 2012
noz portuguesa
[ka@outono 2012]
tenho de começar por declarar que sou uma consumidora diária de nozes. duas nozes ao pequeno almoço, entre flocos de trigo e arroz, com iogurte natural, sem qualquer adição de açucar, uma chávena de bom chá preto... é assim que começam a maioria dos meus dias. é um ritual já com anos. varia nos acompanhamentos de fruta (banana, diospiro, tiras finas de maçã, ou sumo fresco...). é uma rotina e repetição de que não consigo abdicar e que não consigo esgotar.
o último ano foi frustante em termos de nozes. foi o ano em que decidi não voltar a comprar nozes estrangeiras, cansada e frustrada por pagar a peso de ouro o refugo rançoso da produção de nozes internacional (normalmente nozes francesas ou californianas). e de noz portuguesa, nada! as grandes superfícies descuram a produção nacional. e eu provavelmente atrasei-me na visita ao comércio tradicional.
até que no início deste outono decidi-me a ir atrás da noz portuguesa por caminhos cibernéticos. cheguei a bom porto ao descobrir uma entrevista realizada por um periódico regional ao Sr. João Machado Teté, produtor de nozes em terrenos alentejanos (Monte da Raposinha, Beja). já com bons anos de experiência, o sr. Teté gosta de partilhar o seu conhecimento e entusiasmo sobre produção de noz. tem, para tal, um blog de nome Nozes e Nogueiras onde podem encontrar-se informações relevantes para produtores e consumidores de nozes produzidas em terreno português. muito prestável e fácil de contactar, deu-me ainda mais preciosas dicas de como encontrar bons lugares/produtores para satisfazer os meus apetites individuais.
o meu agradecimento ao Sr. João Teté fica aqui bem assinalado, assim como a partilha da localização de toda esta informação, para todos os amantes de nozes que por aqui andam.
ps: novembro é um excelente mês para descobrir noz "fresca" nas bancas das mercearias e pequenas superfícies. não lixiviadas podem armazernar-se durante meses!
paisagem passageira [hilde domin]
Tem de se poder partir
contudo ser como uma árvore:
Como se a raíz permanecesse na terra,
como se a paisagem passasse e nós ficássemos.
Tem de se conter a respiração
até que o vento amaine
e o ar desconhecido nos comece a envolver,
até que o jogo de luz e sombra,
de verde e azul,
nos mostre as estruturas antigas
e estamos em casa,
seja onde for,
e podemos sentar e apoiar-nos
como se fora à sepultura
da nossa Mãe.
[hilde domin, estende a mão ao milagre, Cosmorama 2006]
contudo ser como uma árvore:
Como se a raíz permanecesse na terra,
como se a paisagem passasse e nós ficássemos.
Tem de se conter a respiração
até que o vento amaine
e o ar desconhecido nos comece a envolver,
até que o jogo de luz e sombra,
de verde e azul,
nos mostre as estruturas antigas
e estamos em casa,
seja onde for,
e podemos sentar e apoiar-nos
como se fora à sepultura
da nossa Mãe.
[hilde domin, estende a mão ao milagre, Cosmorama 2006]
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novembro 23, 2012
com saudades do calor e silêncio do majestoso Grand Canyon
... escarpas, despidas pela erosão,
revelam marcas fortes do passado, num conjunto de estratos geológicos muito
particulares (cor, estrutura, composição, origem...) que permitem revisitar cerca de 2 mil milhões de anos de história. uma das teorias propostas para explicar a formação do canyon, o
oceano terá existido quando este pedaço de planeta se encontrava algures na
linha do Equador, a 4000 km de distância(!), há 200 mil anos atrás. o que hoje
nos é dado a conhecer resulta da dinâmica intrínseca do nosso planeta, da
tectónica, e é alvo de teorias que merecem exploração na grandeza do Canyon,
como a teoria “DUDE: Deposition, Up-lift,
Down cutting, Erosion”.
... as culturas índias (tribos
Havasupia, Hualapai, Paiute, Navajo e Hop) remontam a milhares de anos de Canyon, e nos últimos séculos cruzam-se
perigosamente com a história de europeus e americanos. há lugares remotos aos
quais só pode chegar-se por caminhadas de longas horas, ou pelo rio Colorado.
para descobrir, histórias de aventureiros, exploradores, índios,
políticos, e mineiros que marcaram a paisagem. exemplo particular, os aventureiros irmãos Kolb que deixaram um testemunho muito
importante sobre a vivência do Canyon no início do século XX, justificando uma
visita ao Estúdio de fotografia Kolb instalado com vista privilegiada sobre o
trilho Bright Angel, onde podem
visionar-se filmes registados com técnicas inovadoras para a época e em
condições bastante complicadas, como aquelas oferecidas pelos rápidos do rio
Colorado.
... o Canyon tem
muitos outros espectadores para além dos humanos: imponentes veados-mula,
inúmeros esquilos; corvos perscrutadores; falcões peregrinos e condores
(espécie protegida e em pequeno número) a patrulhar e a identificar restos
mortais das suas presas; gaios-azul, corvos, e os impressionantes andorinhões
em voos de alta velocidade.
... desafia turistas e amantes da
natureza. é visitado por cerca de 4 milhões de visitantes anuais, mas a
estatística diz que apenas 1 a 5 % dos visitantes desce abaixo da linha do
topo. o tempo médio de visita ao parque natural é de cerca de 6h, mas podendo,
fica-se muito mais tempo. visitar o Canyon implica percorrer os seus caminhos,
descer e subir os trilhos que recortam as encostas dos desfiladeiros em
repetidos zig-zag vencendo a variação brusca de elevação, respeitando a
imponência e a severidade que a natureza ali nos apresenta. dispondo de mais
tempo pode descobrir-se o rio Colorado em caminhadas mais longas, de alguns
dias, passando pelos ranchos que apoiam os caminhantes na base do desfiladeiro,
outrora pontos de apoio para mineiros e exploradores.
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novembro 18, 2012
catalisadores vitais
... Only in proportion as we are desirous of living more do we really live. Obstinately to insist on carrying on within the same familiar horizon betrays weakness and a decline of vital energies. Our horizon is a biological line, a living part of our organism. In times of fullness of life it expands, elastically moving in unison almost with our breathing. When the horizon stiffens it is because it has become fossilized and we are growing old.
The dehumanization of art, José Ortega y Gasset,
Anchor Books, 1956
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sonhos [Honeymoon Suite, Suzanne Vega]
não é novidade que Suzanne Vega é uma contadora de histórias nata, com olho para pequenos detalhes.
sempre adorei esta letra. o contexto, a situação, a fotografia. musicalmente, não é das minhas preferidas. uma candidata a saltar de faixa. se pudesse, dar-lhe-ia outra roupagem completamente diferente.
no entanto, tendo passado um fim de semana de sonhos nocturnos (não pesadelos) com muitas -muitas mesmo- visitas inesperadas, seguidos de enxaqueca diurna, era impossível não a recordar:
The ceiling had a painting on it / In our room in France
So we were living underneath / Some angels in a dance
My husband was not feeling well / And so we went to bed
He woke up complaining / Of an aching in his head
He said a hundred people / Had come through our room that night
That one by one the old and young / Asked if he was all right
One by one the old and young / Lined up to touch his hand
He spent the night explaining / They had come to the wrong man
The concierge was less than helpful / When we asked her the next day
With coffee and a magazine / We went to the desk to pay
“What happened in that room?” he asked / “A death or something strange?”
She smiled at him politely / And returned to him his change
Well, what I’d like to know / And this will be a mystery
Is with all the people in that room / Why none appeared to me?
When we sleep so close together that / Our hair becomes entwined
I must have missed that moment / In the gateway to his mind
(Nine Objects of Desire, 1996)
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setembro 20, 2012
don't let us ask for the moon... we have the stars!
... é a frase que fica no ar no fim de "now voyager", filme de 1942 com Bette Davies no papel principal.
um belo filme, em que a história de uma jovem mulher oprimida pela sua mãe (e família) se precipita frente aos nossos olhos, com pitadas satírico-humorísticas q.b., e terminando num final feliz que deixa muitas questões psicológicas em aberto.
é quando essa jovem mulher se liberta das garras que a enloqueciam, recuperando a tão importante auto-estima e transfigurando-se numa figura luminosa, ainda que sóbria, (é) foi nesse momento que comecei a ver fantasmas de Susan Sarandon a passearem-se neste filme dos anos 40.
ora cá estão elas juntas:
um belo filme, em que a história de uma jovem mulher oprimida pela sua mãe (e família) se precipita frente aos nossos olhos, com pitadas satírico-humorísticas q.b., e terminando num final feliz que deixa muitas questões psicológicas em aberto.
é quando essa jovem mulher se liberta das garras que a enloqueciam, recuperando a tão importante auto-estima e transfigurando-se numa figura luminosa, ainda que sóbria, (é) foi nesse momento que comecei a ver fantasmas de Susan Sarandon a passearem-se neste filme dos anos 40.
ora cá estão elas juntas:
outra bela foto de Susan Sarandon, ainda mais similar em http://www.moviepicturedb.com/picture/24dd9f1d
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setembro 10, 2012
agosto 29, 2012
entre/between [antoni muntadas]
só até 2 de Setembro, no Centro de Arte Moderna da FCG
resultado de experiências sensoriais na exposição de Antoni Muntadas:
[ka@ago12]
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agosto 27, 2012
dominga [agustina bessa-luís]
conto delicioso. esvaiu-se mais rápido que o saboroso chá preto:
(...)
- Ah, não posso habituar-me demasiado ao conforto. Não é saudável. Tenho que descer e subir as escadas e sentir as mãos geladas de empurrar o portão ferrugento. Já nem range, de tanta ferrugem que tem. É irreparável e, ao mesmo tempo, é consolador. Há coisas que nos consolam porque são irreparáveis. Imagine que tudo se podia compor neste mundo. Que os dinossauros voltavam, que os judeus se levantavam das fossas onde foram empilhados como lixo. Será que tínhamos cara para os receber? O dó é necessário. A cólera é necessária.
(...)
(Cosmorama edições)
(...)
- Ah, não posso habituar-me demasiado ao conforto. Não é saudável. Tenho que descer e subir as escadas e sentir as mãos geladas de empurrar o portão ferrugento. Já nem range, de tanta ferrugem que tem. É irreparável e, ao mesmo tempo, é consolador. Há coisas que nos consolam porque são irreparáveis. Imagine que tudo se podia compor neste mundo. Que os dinossauros voltavam, que os judeus se levantavam das fossas onde foram empilhados como lixo. Será que tínhamos cara para os receber? O dó é necessário. A cólera é necessária.
(...)
(Cosmorama edições)
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