abril 28, 2008

Porto...

contrastes
ou assinaturas
ou esquecimento




não foram as crianças que deixaram
a porta entreaberta
antes do tecto ruir





[ka@abril08,
no regresso da travessia da Ponte D. Luis I,
à boleia de vento fresco de fim de tarde]


abril 26, 2008

silêncio...

[ka@07]



silêncio. silencio. silencio. silêncio. silencio

travar este silêncio caoticamente ruidoso, pensamentos mudos enrolados com outras vozes, silenciosas de ôcas ou desconexas.
a culpa de sentir invasão sufoco impaciência.
preciso do afago de outro silêncio. eu neste espaço, vazio. eu com o marulhar das ondas, o vento nas penas, abandonada a pensamentos mudos.

abril 21, 2008

Dispersos de um dia




espaço: cubículo de elevador.
gesto: mão que se lança sobre o meu cabelo.
exclamação1: tantos cabelos brancos.
exclamação2: deve ser mais nóvinha que eu.







objecto: youth without youth
objectivo: a ideia base do filme.
ideia, versão gaffe: I will love till the day I die
ideia, versão corrigida: I will love you till the day I die
resposta à correcção: "gostava bem mais do I will love till the day I die"

abril 20, 2008

temporal de 5a feira à noite - 5as de leitura

enquanto na noite "chovia a cântaros" (usando o meu alentejano), dentro do teatro do campo alegre momentos preciosos. acho que não estou a exagerar. excluo o diálogo entre j. l. peixoto e yolanda castano desses momentos. incluo as leituras da yolanda do seu novo "profundidade de campo". excluo a terceira parte, à qual não assisti - o corpo dava sinais de fraquezas várias - e há dias em que nos levantamos da cadeira e saímos porta fora porque já recebemos muito e não queremos correr o risco de contaminação.

assim, de cortar a respiração:

a harpa, a forma de ser tocada, o seu tocador,
e a obra de ela não é francesa ele não é espanhol

o regresso ao alentejo da minha infância,
num excerto de "cal"
leitura exemplar de natália luíza

a leitura sentida da susana menezes
desse excelente "arte poética" de j. l. peixoto,
que aqui deixo:

Arte poética
[José Luis Peixoto, A criança em Ruínas]

o poema não tem mais que o som do seu sentido,
a letra p não é primeira letra da palavra poema,
o poema é esculpido de sentidos e essa é a sua forma,
poema não se lê poema, lê-se pão ou flor, lê-se erva
fresca e os teus lábios, lê-se sorriso estendido em mil
árvores ou céu de punhais, ameaça, lê-se medo e procura
de cegos, lê-se mão de criança ou tu, mãe, que dormes
e me fizeste nascer de ti para ser palavras que não
se escrevem, lê-se país e mar e céu esquecido e
memória, lê-se silêncio, sim, tantas vezes, poema lê-se silêncio,
lugar que não se diz e que significa, silêncio do teu
olhar de doce menina, silêncio ao domingo entre as conversas,
silêncio depois de um beijo ou de uma flor desmedida, silêncio
de ti, pai, que morreste em tudo para só existires nesse poema
calado, quem o pode negar?, que escreves sempre e sempre, em
segredo, dentro de mim e dentro de todos os que te sofrem.
o poema não é esta caneta de tinta preta, não é esta voz,
a letra p não é a primeira letra da palavra poema,
o poema é quando eu podia dormir até tarde nas férias
do verão e o sol entrava pela janela, o poema é onde eu
fui feliz e onde eu morri tanto, o poema é quando eu não
conhecia a palavra poema, quando eu não conhecia a
letra p e comia torradas feitas no lume da cozinha do
quintal, o poema é aqui, quando levanto o olhar do papel
e deixo as minhas mãos tocarem-te, quando sei, sem rimas
e sem metáforas, que te amo, o poema será quando as crianças
e os pássaros se rebelarem e, até lá, irá sendo sempre e tudo.
o poema sabe, o poema conhece-se e, a si próprio, nunca se chama
poema, a si próprio, nunca se escreve com p, o poema dentro de
si é perfume e é fumo, é um menino que corre num pomar para
abraçar o seu pai, é a exaustão e a liberdade sentida, é tudo
o que quero aprender se o que quero aprender é tudo,
é o teu olhar e o que imagino dele, é solidão e arrependimento,
não são bibliotecas a arder de versos contados porque isso são
bibliotecas a arder de versos contados e não é o poema, não é a
raiz de uma palavra que julgamos conhecer porque só podemos
conhecer o que possuímos e não possuímos nada, não é um
torrão de terra a cantar hinos e a estender muralhas entre
os versos e o mundo, o poema não é a palavra poema
porque a palavra poema é uma palavra, o poema é a
carne salgada por dentro, é um olhar perdido na noite sobre
os telhados na hora em que todos dormem, é a última
lembrança de um afogado, é um pesadelo, uma angústia, esperança.
o poema não tem estrófes, tem corpo, o poema não tem versos,
tem sangue, o poema não se escreve com letras, escreve-se
com grãos de areia e beijos, pétalas e momentos, gritos e
incertezas, a letra p não é a primeira letra da palavra poema,
a palavra poema existe para não ser escrita como eu existo
para não ser escrito, para não ser entendido, nem sequer por
mim próprio, ainda que o meu sentido esteja em todos os lugares
onde sou, o poema sou eu, as minhas mãos nos teus cabelos,
o poema é o meu rosto, que não vejo, e que existe porque me
olhas, o poema é o teu rosto, eu, eu não sei escrever a
palavra poema, eu, eu só sei escrever o seu sentido.

My fellow riders...

(...) Every now and then I'm slipping back again
Empty and mortal I begin to sing this song
My mind is moving fast Trying to make connections
Taking short-cuts Noting events
Listing all Filing away
Along with opinions Making connections
Taking short-cuts Noting events
Listing all Filing away
Along with opinions Making connections
Taking short-cuts Noting events...
It appears to be done For the pleasure of the doing
But I'm no better shape Than my fellow riders...

faz mais ou menos um ano que Anja Garbarek reentrou no meu espaço, pela mão de Luc Besson, no filme Angel-A. depois seguiu-se "Briefly Shaking". diferente, talvez até mais comercial do que dela conhecia. hoje, a oportunidade de ver Anja em palco. a noite foi curta, mas reveladora de bastante energia. Anja Garbarek vai de extremo a extremo: da doçura, de uma certa tristeza, à irreverência sonora, ao protesto. no centro cultural vila flor houve muita energia em palco. como os gestos da Anja, muito bem controlados: Anja Robot. Anja Pierot. presença em palco algo teatral mas muito natural. gostei.
duas amostras de diferentes sonoridades:



[Can I keep him (Angel-A)]

Anja conta-nos um conto...

[Strange Noises]

abril 16, 2008

Oratoire de Poche, por Alvess

[obra composta de 3 elementos: caixa de madeira com inscrição, folha de papel impressa, espelho] [ka@serralves, abril 08]


Lire attentivement la notice


Le monde pose une problematique,
a que nous appelons sous sens.
Or, ce sens c'est pas dans le monde,
il est en dehors.
« Le sens de la vie, c'est-à-dire le
sens du monde, nous pouvons
l'appeler Dieu.»
Prier c'est penser au sens de la vie.
Wittgenstein



Mode d'emploi:
se regarder le temp necessáire jusqu'à ce
que le mot Dieu ne soit plus inversé.

abril 11, 2008

Livros: que relação com eles?

- tocar reverencial?
- cúmplice de pensamento, devidamente rasurado?
- papelinhos a transbordar pelas lombadas?
- arestas escuras e claras de tantos cantos dobrados?
- dedicatórias, e/ou comentários na última página em branco?
- pequenos recortes colhidos do mundo escondidos entre folhas a complementar?
- o que é sacrilégio, o que é empatia, o que nos são os livros?



diz-me como vives o livro, dir-te-ei quem és...

abril 09, 2008

dom quixote, para teu consumo a gosto!


[Beastie Boys, de check your head]

alternativa mais longa e bem ilustrada aqui

abril 05, 2008

Lúcia David - o fecho do ciclo

porque não há duas sem três, visita in extremis à Velha-a-Branca, em Braga, antes do encerramento da exposição de Lúcia David.

taken, lost swallowed, spat and found, (2006), técnica mista com texto de Lúcia David:

[ka08@velha-a-branca]

I AM ALONE, I'M FROM NOWHERE, I CAN BE FOUND NOWHERE, THERE'S NO ETERNITY, I CAN SAY, BUT THERE IS A PERMANENT, A CONSTANT LIMITLESS THOUGHT THAT LASTS BEYOND ANYONE OF US, THAT CAN BE VERIFIED IN AND BY HISTORY, YOU AND I WILL BE REMEMBERED ONE DAY BECAUSE OF ASSUMPTIONS

abril 04, 2008

assentar como luva verde...

The National - Green Gloves(Boxer / 2007):

Falling out of touch with all my friends are somewhere getting wasted,
hope they’re staying glued together, I have arms for them.

Take another sip of them, it floats around and takes me over
like a little drop of ink
in a glass of water

Get inside their clothes with my green gloves watch their videos, in their chairs.
Get inside their beds with my green gloves, get inside their heads, love their loves.

(...)

abril 02, 2008

depois de 3 tempos

[Três Tempos, de Hou Hsiao-Hsien]

1966, Tempo de Amar

leveza e aceitação. no encontro, o sorriso e o silêncio. confortável SILÊNCIO. a ironia do entendimento, da beleza. a ironia da felicidade.

1911, Tempo de Liberdade
solenidade RITUAL: gestos precisos, económicos, deferentes. como o sentimento: controlado, convicto, dissimulado.

2005, Tempo de Juventude
a manta dos tempos modernos. manta de retalhos sentimentais cozidos a fio de lã desgastado. resta o EU e toda a confusão.


--- um século, de extremo a extremo ---

2034, Tempo de ...???
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no regresso do cinema, um som neutro e belo para apaziguar as pontas soltas de pensamentos.
encadeou-se com o final do filme que nem luva verde.

[Radian, Air]