março 17, 2012

banho de lua ... [Celly Campello]

...ou o que Marcovaldo e família perdem à custa do GNAC:


março 16, 2012

Lua e GNAC [Italo Calvino]

são curtas histórias de Marcovaldo e sua família. enternecedoras. moralizadoras. surpreendentes. de uma perspicácia para pequenas realidades, detalhes, que passariam despercebidas à maioria dos passos apressados das rotinas citadinas. finais surpreendentes. Lua e GNAC, em particular, deixou-me com um sorriso e um sentimento de presença nas vidas destes personagens. se puderem, não deixem de ler. fica aqui só um pequeno "aperitivo":


Verão / 14. Lua e GNAC / 

     A noite durava vinte segundos, e vinte segundos o GNAC. Durante vinte segundos via-se o céu azul matizado de nuvens negras, e estrelas que quanto mais se olhava para elas mais evidenciavam a sua pungente pequenez, até às poeiras da Via Láctea, tudo visto muito à pressa, cada pormenor que se fixava era uma porção do conjunto que se perdia, porque os vinte segundos acabavam depressa e começava o GNAC.
     O GNAC era parte do letreiro publicitário SPAAK-COGNAC por cima do telhado em frente, que estava vinte segundo aceso e outros vinte apagado, e enquanto ficava aceso não se via mais nada. A lua de repente empalidecia, o céu punha-se uniformemente negro e plano, as estrelas pediam o brilho, e os gatos e gatas que há dez segundo lançavam renhaus de amor movendo-se lânguidos um contra o outro ao longo das goteiras e cimalhas, agora, com o GNAC, escondiam-se nas telhas de pêlo eriçado, sob a luz foforescente do néon.
     À janela da mansarda onde morava, a família de Marcovaldo era atravessada por opostas correntes de pensamentos. (...)
(...)
     E assim, de cada vez que se acendia o GNAC, os astros de Marcovaldo confundiam-se com os tráficos terrestres, e Isolina transformava um suspiro no ofegar de um mambo cantarolado, e a rapariga da mansarda desaparecia naquele arco deslumbrante e frio, ocultando a sua resposta ao beijo que Fiordaligi tivera finalmente a coragem de lhe mandar nas pontas dos dedos, e Filippetto e Michelino de punhos à frente da cara brincavam aos bombardeamentos aéreos - Ta-ta-ta-tá... - contra o letreiro luminoso, que ao cabo de vinte segundos se apagava.

(...)

[Italo Calvino, Marcovaldo - a busca da natureza no meio da cidade, Teorema]