Que trouxe Kieslowski nos seus filmes, senão janelas para o ser, o sentir, retratos de almas que se transportam para a interioridade não-consciente de existir? De que tratam os seus filmes? Não é o enredo que me prende, mas o tempo, o tic tac de vidas entrecruzadas, num mundo que, ainda que em turbulência, abre espaços e disponibilidades para a busca do sentido. A urgência, (deveria escrever a prioridade) vem de dentro, não do excesso de informação nem do cronómetro das nossas rotinas. Rever Vermelho transportou-me para o tempo da ausência de urgências quotidianas. O filme marca o ritmo. A (tele)comunicação suporta-se no tradicional telefone por fios, as notícias chegam em papel, as denúncias seguem por carta. A distância sente-se, assim como a urgência do seu estreitamento. O filtro da distância, seja temporal ou espacial, actua. O ritmo do tempo já não é o destes dias. Com Vermelho fica o impulso (por ironia urgente!) de ver La duple vie de Veronique. Obra prima onde o tic tac da procura matura de dentro para fora do ser, paciente.
Invejo o tempo musical deste entrecruzar de experiências e de vidas ficcionadas que Kieslowski deixou. Saudades.
Invejo o tempo musical deste entrecruzar de experiências e de vidas ficcionadas que Kieslowski deixou. Saudades.
[trois couleurs: rouge]
1 comentário:
Há filmes que também servem para isso: em vez da distância, a ilusão de proximidade e de toque. Foi isso que senti com o Azul. Falta passar pelas outras cores.
Enviar um comentário