Do extremo da depressão, mensagens a estimular a reflexão sobre a ténue fronteira delimitadora da sanidade, do equilíbrio do corpo e da mente. Entre silêncios salta uma observação: "Sabes, acho que estou a ser manipulada mesmo." E que fazer quando somos nós próprios agentes de auto-manipulação, ainda que inconscientemente? As respostas não estão em 4:48, mas nela encontramos um palco possível, extremado, para os conflitos travados dentro da mente, das emoções, e até para a exposição da forma como o corpo se sente aprisionado entre o conflito interior e a cura imposta, a manipulação química, a manipulação psicológica. Uma reflexão crua e penetrante.
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[excerto da peça, a partir de Teatro Completo, Sarah Kane, Campo das Letras]
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O corpo e a mente não se podem casar nunca
Tenho de me tornar na pessoa que já sou, hei-de vaiar sempre esta incongruência que me remeteu ao inferno
A esperança insolúvel não me mantém de pé
Vou afogar-me em disforia
no lago frio e negro de mim própria
no fosso da minha mente imaterial
Como posso voltar à forma
se já não tenho pensamentos formais?
Não posso sustentar esta vida.
Vão amar-me por aquilo que me destruiu
a espada dos meus sonhos
o pó dos meus pensamentos
a doença que se alimenta nas dobras da minha mente
Cada palavra de apreço tira um pedaço da minha alma
Um cavalo expressionista
Num estábulo entre dois parvos
Não sabem nada -
Sempre andei em liberdade
Última numa longa fila de cleptomaníacos literários
(uma tradição honrada pelo tempo)
O roubo é o acto sagrado
No caminho retorcido para a expressão
Uma grande quantidade de pontos de exclamação substitui um colapso nervoso eminente
Só uma palavra na página e lá está o teatro
Escrevo para os mortos
os desnascidos
Depois das 4:48 não volto a falar
Cheguei ao fim deste conto repugnante e aterrorizante de um sentimento metido numa carcassa alienígena inchada pelo espírito maligno da maioria moralista
Estou morta há muito tempo
De volta às raízes
Canto sem esperança na fronteira
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RSVP ASAP
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