durante o Ensaio Sobre a Cegueira [Fernando Meirelles, 2008] renasceram recorrentemente as memórias de um outro filme, Time of the Wolf [Michael Haneke, 2003]. talvez por isso, a sensação ao abandonar a sala escura era de alguma revolta no estômago e aperto no pescoço que só surgem em situações de muito stress, pânico, ou medo. talvez também em situações de alguma delicadeza emocional. enfim... são filmes que se complementam.
ainda não li o livro de Saramago, mas partindo do princípio que a adaptação é fiel à ideia do autor, Meirelles filma a metáfora da cegueira, levando uma comunidade a situações extremas de conflito e de sobrevivência. cegos são os que vêem, basta recusar um olhar, ou negar a realidade. no ensaio, toda a experiência contribúi para testar os verdadeiros limites da existência e a integridade humana apenas (...) para renascer da doença, dando uma nova oportunidade para reviver a realidade que nos rodeia. é claramente uma visão branca, esperançosa, da cegueira e do Homem. de uma certa paz, apelando à solidariedade. os bons e os maus. sem máscaras. a verdadeira natureza em expressão.
o Tempo do Lobo comunga do teste dos limites da existência e integridade. é esse o centro de uma história sem princípio e fim concretos. percebe-se um mundo ameaçado. populações deslocadas dos grandes centros em busca de sobrevivência. a incerteza da duração desse estado de sítio. não se sabe a causa. terrorismo. contaminação biológica de larga escala. guerra. não há qualquer informação. apenas grupos de deslocados, de todos os extractos sociais, um movimento colectivo, que se vai tornando unidireccional, no sentido da esperança da segurança. a história nao tem fim. porque rapidamente se circunscreve a uma estação de combóios, um refúgio, a esperança de um combóio salvação que não chegará. e a partir daí, as dinâmicas comunitárias de "tempos de sobrevivência". a metáfora são os lobos, não a cegueira. os lobos que cercam a presa até, metaforicamente, a comer viva. somos levados a esta realidade pelas mãos de uma família destroçada, a mãe e os seus filhos. e é com eles que ficamos presos naquele apeadeiro sobrepopulado. Haneke só nos oferece o fim da história do personagem integridade. e ao contrário de Saramago, a mensagem é fatalista. e pesa, porque se desenrola num cenário ficcionado bem mais real do que queiramos imaginar. poderá acontecer, se não está já a passar-se nalgum ponto do planeta...
e talvez por já ter saído de uma sala escura, há cinco anos atrás, perturbada, angustiada, a pensar nesta nossa vidinha, a mensagem deste ensaio não me deixou nada pacificada. em ambos os filmes, não se sabe bem que mundo vai projectar-se-nos do lado exterior da porta da sala escura.
um filme escuro. outro branco sobre-exposto. a complementaridade destes dois filmes também expressa pela fotografia. ficam os trailers.
ainda não li o livro de Saramago, mas partindo do princípio que a adaptação é fiel à ideia do autor, Meirelles filma a metáfora da cegueira, levando uma comunidade a situações extremas de conflito e de sobrevivência. cegos são os que vêem, basta recusar um olhar, ou negar a realidade. no ensaio, toda a experiência contribúi para testar os verdadeiros limites da existência e a integridade humana apenas (...) para renascer da doença, dando uma nova oportunidade para reviver a realidade que nos rodeia. é claramente uma visão branca, esperançosa, da cegueira e do Homem. de uma certa paz, apelando à solidariedade. os bons e os maus. sem máscaras. a verdadeira natureza em expressão.
o Tempo do Lobo comunga do teste dos limites da existência e integridade. é esse o centro de uma história sem princípio e fim concretos. percebe-se um mundo ameaçado. populações deslocadas dos grandes centros em busca de sobrevivência. a incerteza da duração desse estado de sítio. não se sabe a causa. terrorismo. contaminação biológica de larga escala. guerra. não há qualquer informação. apenas grupos de deslocados, de todos os extractos sociais, um movimento colectivo, que se vai tornando unidireccional, no sentido da esperança da segurança. a história nao tem fim. porque rapidamente se circunscreve a uma estação de combóios, um refúgio, a esperança de um combóio salvação que não chegará. e a partir daí, as dinâmicas comunitárias de "tempos de sobrevivência". a metáfora são os lobos, não a cegueira. os lobos que cercam a presa até, metaforicamente, a comer viva. somos levados a esta realidade pelas mãos de uma família destroçada, a mãe e os seus filhos. e é com eles que ficamos presos naquele apeadeiro sobrepopulado. Haneke só nos oferece o fim da história do personagem integridade. e ao contrário de Saramago, a mensagem é fatalista. e pesa, porque se desenrola num cenário ficcionado bem mais real do que queiramos imaginar. poderá acontecer, se não está já a passar-se nalgum ponto do planeta...
e talvez por já ter saído de uma sala escura, há cinco anos atrás, perturbada, angustiada, a pensar nesta nossa vidinha, a mensagem deste ensaio não me deixou nada pacificada. em ambos os filmes, não se sabe bem que mundo vai projectar-se-nos do lado exterior da porta da sala escura.
um filme escuro. outro branco sobre-exposto. a complementaridade destes dois filmes também expressa pela fotografia. ficam os trailers.
Sem comentários:
Enviar um comentário