este poema foi achado numa visita à galiza (ourense),
declamado pela autora com muita e boa "solêra".
uma mostra da influência e gosto pelo português, na galiza.
a dedicação à causa da lusofonia ficará para depois...
uma mostra da influência e gosto pelo português, na galiza.
a dedicação à causa da lusofonia ficará para depois...
Eu queria ter sotaque da costa
chamar-te corasom e falar-te ao ouvido de gaivotas
ondas de dois a quatro metros
marujia e mar de fundo.
Queria levar-te na barca barca num dia de sol,
ensinar-te a pescar e chamar cada peixe pelo seu nome
faneca, castanheta, maruca, andorinha do mar.
Queria ter sotaque da costa.
No lugar disso tenho-te que dizer que ardeu o monte que minha mãe herdou de meu avó,
esse no que andava-mos as pinhas cada verão;
minha tia trazia um saco grande de papel para cada um,
os que comprava com a farinha para os porcos.
Agora não tem porcos.
No mar ainda há peixes!
Queria saber o que sentem os meninos da costa
quando seu pai embarca para regressar só no Natal
deixando-os com a sua mãe.
Meu pai embarcou sim mas ele embarcou no aeroporto de Santiago
e voltava uma vez por ano,
com minha mãe
porque ela
embarcou com ele.
Mas eu não tenho sotaque da costa.
Será coisa de minha mãe ter embarcado com ele;
se calhar
o sotaque o transmitem as mães,
não sei.
Havia uma parte do monte
que mesmo parecia costa
caminhavas, e no final
as rochas frias rompiam no bacio de jeito vertiginoso,
nos dias de sol em que o ceo era azul,
para mim era o mar.
Na costa ainda há mar.
Queria ter sotaque da costa
para falar com minha mãe de como eram as suas viagens,
de quando meu pai voltou na adega do avião,
e dos dias
nos que o sotaque do interior
ainda estava vivo.
Belém de Andrade, 34 anos, poeta desde os 11, recita poesia por toda a Galiza e Portugal, colaboradora em publicações escritas e blogues com outros autores galegos.
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