fevereiro 28, 2008

Ovni no ar: O som atinge o cimo das montanhas, de João Camilo

A Ovni promete leituras à velocidade da luz, com livros que "... procuram (...) deslocar-se no espaço e no tempo, ligarem pontos muito distantes.

Por dois ou três dias andei com outro ovni no bolso, partilhando o desvendar do que acontece depois do instante em que o som atinge o cimo da montanha. João Camilo escreve sobre o silêncio que fica no rasto dessa trajectória. O som pode ser o passado que começa no agora, os pensamentos que preenchem os sentidos no cair da noite, a contemplação dos outros numa esplanada ensoladara. O rasto de silêncio confunde-se com o futuro de memórias e emoções que insistimos em guardar e transportar. Os poemas-prosa encadeiam-se. Sente-se o envelhecer, o peso do tempo de quando a descoberta do Eu pode confundir-se com resignação emocional.

Mera coincidência que o personagem se chame "K.".
Pergunto-me quantas pessoas, ao ler este livro de João Camilo, se revêem no estudo do rasto do silêncio. A poesia também é isto, apropriação de palavras:

(...)
Não aprendi ainda
a lição, a terrível lição:enquanto
for tempo de durar, dura; olha
enquanto for tempo de ver. Se
for tempo de estar, está. Sofre,
se for tempo de sofrer. E odeia
também, se te apetecer e for
preciso. Não descures os
minutos e os segundos, (...)
(...), pois se te for concedido
o tempo hás-de arrepender-te.

[excerto de Enquanto for tempo]

vale a pena a leitura plena deste diálogo mental de K. Agora, vou deixar os silêncios repousarem certa de que a eles voltarei de tempos a tempos.

1 comentário:

ana c. disse...

desperta bastante interesse, de facto. e silêncio.