maio 31, 2008

Expresso online

TOP NOTÍCIAS (13 de Maio)

1. O calendário das ousadas mães de Serradilha (17.507)
2. "Site" de pornografia para cegos é um sucesso (10.972)
3. Homem confessou incesto (9383)
4. Por favor não governem mais! (8115)

[revista Única, de 17 de Maio 08]

maio 28, 2008

Bahok, Akram Khan


__home_hope__home_ _I am lost__memories___I feel _ the _ rain in __my hands!__home__+*#&&zzz?!!?k___


uns chegam de mala de viagem tombando o ombro ao chão, outros dormem em cadeiras desconfortavelmente, outros simplesmente esperam. há um quadro electrónico vazio. há a tensão da iminência - falhada - da dança de letras anunciando o próximo destino, a próxima viagem, a próxima chegada. ou então...
estranhos, dispersos numa espaço de espera. pessoas que se cruzam, estudam, abordam, que se tocam. porque todos nos tocamos, a tons que se matizam entre a ternura e a dor. a ansiedade é alimentada pelo anúncio constantemente frustrado da partida. a comunicação difícil, pela multiplicidade de línguas. viajantes, entre mundos distintos.

We are all travelers. We are all voyagers. Born into this world, embodied, we can only move forwards. But we are also all carriers. We are all bahok. daqui

“For nomads, home is not an address,
home is what they carry with them.”
[John Berger, Hold everything dear. p. 129] daqui

« Home is where one starts from »
[T.S. Eliot, The Four Quartets.] daqui




a partir (ou próxima) destas palavras começa a 1h30 viciante aditiva alucinada da dança de letras sentimentos do corpo da alma memórias casa sonho desespero, assim mesmo, sem vírgulas e fôlego próprio porque embarcamos nessa viagem fantástica coreografada por Akram Khan e vivenciada de forma tão bela e intensa pelos performers do Ballet Nacional da China, e pelos sons de Nitin Sawhney. múltiplas formas de expressão corporal. sincronismo, marcialidade, energia, imagens reflexo, rapidez, plasticidade, multiculturalidade muito para além dos 4 elementos ar terra água e fogo. muita energia. repito: MUITA ENERGIA!

não há registo media que dê o que este espectáculo tem para dar.

depois da passagem fulminante por Guimarães, vai estar em Lisboa, no Alkantara Festival, dias 30 e 31 de Maio... não perder!

maio 20, 2008

a curva da poesia

[ou imagem sonora pouco original]

volume a volume, respiraram. sorriram.
ouviram-se suspiros de alívio, quase tom de preguiça matinal.
lado a lado, amigos reencontram-se, estranhos descobrem-se...
a poesia contornou a curva
com a frágil lucidez dos primeiros passos da madrugada.
uma gata aconchegou-se no sofá para uma noite diferente.
ali foi embalada pelo burburinho que atravessou as horas.
só ela sabe as histórias que ouviu contar.

maio 17, 2008

Fragile Things, Neil Gaiman

No rasto dos versos do conto provocador de Bucay, deixo uma outra proposta.

A forma é a mesma: microconto, em verso. O autor, de outro universo... Mas primeiro deixem-me contar uma história: um dia ouvi no Rádio Club Português uma voz a cantar Silent all these Years. Depois de um telefonema relâmpago ouvi pela primeira vez o nome Tori Amos (91?92?). Algum tempo depois... as ligações sociais da temporada inglesa de Tori levaram-me ao mundo da série de banda desenhada The Sandman... os irmãos que fazem as histórias da autoria de Neil Gaiman:

Desire, Despair, Destruction, Morpheus/Dream, Death, Destiny, Delirium
[esta imagem, colada na parede, fez-me companhia durante anos.] [a Destruction, lembra alguém?...]

Continuando... alguns anos depois cruzei-me com um livro de ficção de Neil Gaiman, Neverwhere. Apesar de não ser apreciadora de histórias fantásticas, devorei o livro com gosto. Nele, a vida de Richard Mayhew muda drasticamente, após auxiliar Door, uma rapariga que encontra caída num passeio de Londres. Em consequência, vê-se envolvido numa trama desenrolada num mundo paralelo, uma cidade de monstros, santos, assassinos e anjos. Richard e Door têm a difícil missão de salvar da destruição este estranho mundo paralelo....



E assim chego a Fragile Things - short fictions and wonders. Há livros que nos puxam, sem percebermos bem o "porquê". Tem andado comigo. Estou viciada. Volto ao mundo fantástico com traços de doçura, ironia, brincadeira das histórias que saem da pena de Neil Gaiman. Assim, vem finalmente o prometido conto em verso. Hesito na escolha. Mas para responder à provocação de Bucay, vou deixar o The Fairie Reel para outro dia.


------- The Hidden Chamber -----------------------

Do not fear the ghosts in this house; they are the least of your worries.
Personally I find the noises they make reassuring. The creeks and footsteps in the night,
their little tricks of hiding things, or moving them, I find endearing, not upsettling. It makes the place feel so much
more like home.
Inhabited.
Apart from ghosts nothing lives here for long. No cats
no mice, no flies, no dreams, no bats. Two days ago
I saw a butterfly,
a monarch I believe, which danced from room to room
and perched on walls and waited near to me.
There are no flowers in this empty place,
and, scared the butterfly would starve, I forced a window wide,
cupped my two hand around her fluttering self,
feeling her wings kiss my palms so gentle,
and put her out, and watched her fly away

I've little patience with the seasons here, but
your arrival eased this winter's chill.
Please, wander round. Explore it all you wish.
I've broken with tradition on some points. If there is
one locked room here, you'll never know. You'll not find
in the cellar's fireplace old bones or hair. You'll find no blood.
Regard:
just tools, a washing-machine, a drier, a water-heater, and a chain of keys.
Nothing that can alarm you. Nothing dark.

I may be grim, perhaps, but only just as grim
as any man who suffered such affairs. Misfortune,
carelessness or pain, what matters is the loss. You'll see
the heartbreak linger in my eyes, and dream
of making me forget what came before you walked
into the hallway of this house. Bringing a little summer
in your glance, and with your smile.

While you are here, of course, you will hear the ghosts, always a room away,
and you may wake beside me in the night,
knowing that there's a space without a door,
knowing that there's a place that's locked but isn't there.
Hearing them scuffle, echo, thump and pound.

If you are wise you'll run into the night, fluttering away into the cold
wearing perhaps the laciest of shifts. The lane's hard flints
will cut your feet all bloody as you run,
so if I wished, I could just follow you,
tasting the blood and oceans of your tears. I'll wait instead,
here in my private place, and soon I'll put
a candle
in the window, love, to light your way back home.
The world flutters like insects. I think this is how I shall remember you,
my head between the white swell of your breasts,
listening to the chambers of your heart.

[Neil Gaiman, The Hidden Chamber, em Fragile Things]

maio 15, 2008

às voltas com sem querer saber

[Sem querer saber, conto de "Contos para pensar", de Jorge Bucay]
E se for verdade que deixaste de me amar
peço-te,
por favor, não mo digas!

Preciso hoje
e apesar de tudo
de navegar
inocente nas tuas mentiras...

Dormirei sorrindo
e muito tranquilo
acordarei
muito cedo pela manhã.

Voltarei a fazer-me ao mar,
prometo-te...

Mas, desta vez,
sem um olhar de protesto ou resistência
naufragarei por minha vontade e sem reservas
na profunda imensidão do teu abandono...

maio 12, 2008

Porto. Abandono. #1



[ka@maio08]

maio 10, 2008

in Público, 9 de Maio 2008

<<(...) Antes, Luis Fazenda tinha acusado a política do Governo de ser "a inveja da direita", pelo seu "pendor liberal e anti-social".
    No mesmo tom, Heloísa Apolónio (PEV) provocara: "Se o engenheiro Sócrates fosse candidato à liderança do PSD, poucos dariam pela diferença, tal é a semelhança." "Não me julgue à sua medida: os Verdes, quando se abrem, percebe-se que são vermelhos", ripostou o chefe do Governo". (...)>>

Apetece dizer, ainda bem que assim é...

maio 08, 2008

4.48 Psicose, Sarah Kane

A peça está no Estudio Zero, até dia 18 de Maio. Excelente trabalho da companhia As Boas Raparigas, com os actores Maria do Céu Ribeiro e Daniel Pinto.

Do extremo da depressão, mensagens a estimular a reflexão sobre a ténue fronteira delimitadora da sanidade, do equilíbrio do corpo e da mente. Entre silêncios salta uma observação: "Sabes, acho que estou a ser manipulada mesmo." E que fazer quando somos nós próprios agentes de auto-manipulação, ainda que inconscientemente? As respostas não estão em 4:48, mas nela encontramos um palco possível, extremado, para os conflitos travados dentro da mente, das emoções, e até para a exposição da forma como o corpo se sente aprisionado entre o conflito interior e a cura imposta, a manipulação química, a manipulação psicológica. Uma reflexão crua e penetrante.

______________________________________________________

[excerto da peça, a partir de Teatro Completo, Sarah Kane, Campo das Letras]


(...)

O corpo e a mente não se podem casar nunca

Tenho de me tornar na pessoa que já sou, hei-de vaiar sempre esta incongruência que me remeteu ao inferno

A esperança insolúvel não me mantém de pé

Vou afogar-me em disforia
        no lago frio e negro de mim própria
         no fosso da minha mente imaterial

Como posso voltar à forma
se já não tenho pensamentos formais?

Não posso sustentar esta vida.

Vão amar-me por aquilo que me destruiu
        a espada dos meus sonhos
        o pó dos meus pensamentos
        a doença que se alimenta nas dobras da minha mente

Cada palavra de apreço tira um pedaço da minha alma

Um cavalo expressionista
Num estábulo entre dois parvos
Não sabem nada -
        Sempre andei em liberdade

Última numa longa fila de cleptomaníacos literários
        (uma tradição honrada pelo tempo)

O roubo é o acto sagrado
No caminho retorcido para a expressão

Uma grande quantidade de pontos de exclamação substitui um colapso nervoso eminente
Só uma palavra na página e lá está o teatro

Escrevo para os mortos
os desnascidos

Depois das 4:48 não volto a falar
Cheguei ao fim deste conto repugnante e aterrorizante de um sentimento metido numa carcassa alienígena inchada pelo espírito maligno da maioria moralista

Estou morta há muito tempo
De volta às raízes

Canto sem esperança na fronteira

-----

        RSVP          ASAP

-----

(...)




algures entre o verde e os lábios...

... poderiam ressoar estas palavras:


Guarda a tua seiva para as raízes e os dedos para a colheita.
E depois detém-te a olhar o fruto, crescendo devagar,
nas tardes que demoram até ao verão. Que te seja redondo,
ao côncavo da mão, e nele reconheças o gosto e o perfume

mesmo antes de tocar-lhe; morde-o longamente com os olhos -
é neles que a polpa faz mais sede e a pele transpira
com o fulgor da cera. E não consintas vento, nem abelhas,
nem que nele repousem outros olhos, muito mais pequenos,
como os que trazem as aves voltando do inverno. Deixa

o teu nome no pomar durante a noite - há mãos que nunca
dormem e a espera pode tornar os frutos ociosos.
Mas para mais ninguém este se avoluma, à tua boca prometido.
Embala-o então com a verdade antes de partires.
Cerca-o com os teus sonhos. Mostra-lhe os dedos
que irás um dia confiar-lhe.

E assim o tempo devolvê-lo-á inteiro a seu tempo, vermelho
e tenro, doce, à espessura dos lábios.

[A Casa e o Cheiro dos Livros, Maria do Rosário Pedreira]

maio 06, 2008

Pina Bausch em lx...

... e que faço eu aqui?

procuro revêr Café Muller, pelo youtube. encontro excertos. observo. khalu, enroscada ao meu lado, parece sorrir com os sons de Henry Purcell. entre o sorriso dela e os meus olhos, emoções que ganham forma nos corpos, o abandono, a resignação, o impulso, a retracção.





gostava de poder não dormir esta semana. ou... de comutar todos estes dias entre lisboa e porto.

maio 05, 2008

Tarde da Mãe...


[ka08@praia das maçãs]

maio 03, 2008

TicTac, em contagem decrescente...

Está quase a estrear mais uma produção TicTac -Teatro Amador de Ciências. Fui espreitar os ensaios de B.I. - Bilhete de Ida.



os bastidores do ensaio:

alguns detalhes...



e algumas cenas...








fica para já à criatividade de cada um especular sobre o conteúdo das cenas da peça aqui registadas. sairá em breve mais informação no blog TicTac.

maio 01, 2008

intenções e tensão

esfumando-se
entre dedos

deslizando
por paredes de teia

capturadas
na rede de luz


no fim, o vazio,
e o ruído.
ensurdecedor.