julho 16, 2008

A Lata Azul, Tibães e Pepe

[foto: arnaldo]
alguns já me terão visto um sorriso acompanhado de um curto comentário, sempre que pego na lata azul e preparo um cigarro. é do Pepe que me lembro: penso no seu sorriso comedido e malandro, sempre que me "vê" enrolar um Amsterdamer. dominante, silencioso, paciente, analítico, minucioso, curioso, aparentemente distante, disfarçando sorrisos ou afectos, mas muito ligado a tudo e a todos. é assim que o lembro.

à tua maneira. nos pequenos gestos, nos momentos mais inesperados e previsivelmente insignificantes, era aí que muitas vezes te revelavas. como no último dia que te vi, a tua mão no meu espelho retrovisor acenando o adeus, gesto que te era pouco comum, como se adivinhasses o que viria duas semanas depois.

na sexta feira chamei-te e estiveste comigo outra vez. passeámos pelos corredores do Mosteiro de Tibães. assim o desejei. invocação pelo cheiro da madeira aparentemente virgem, pelo som dos passos nos longos corredores ou nas acolhedoras celas. apreciámos a minúcia dos tectos, a complexidade da recuperação, a beleza que renasce neste complexo trabalho de restauro. não foste tu que lá me levaste, mas inesperadamente tornaste-te a presença mais importante, transcendendo, e simultaneamente assinando, com um invisível formão com um dos teus cabos de madeira, as actividades e os contactos agendados para o fim de tarde.

o dia foi longo e teve muitos kilómetros. porto - vigo - braga - tibães - porto. 7h30 - 24h.
foi preciso chegar a casa para recordar com um sorriso gigante que era o teu dia.

parabéns avô pepe!

[não senti a coragem ou o impulso, mas tivesse eu puxado da máquina fotográfica a pesar no fundo do saco e ter-te-ia certamente apanhado no campo de visão! vou ter mesmo de lá voltar.]

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