julho 13, 2008

um vazio.... A-troz.

o título não é reflexo da minha percepção do espectáculo. muito pelo contrário, pode ser reflexo da incapacidade da escrita transmitir certas vibrações da Palavra e de como me ficaram gravadas. vibrações de Vera Mantero que, finalmente, consegui ver ao vivo.

[1 de 3 alheamentos, no dia 12 de Julho, Centro Cultural Vila Flor/Guimarães:]

uma misteriosa Coisa, disse o E. E. Cummings

Concepção e interpretação Vera Mantero
Caracterização
Alda Salavisa (desenho original de Carlota Lagido)
Adereços
Teresa Montalvão
Desenho de luz
João Paulo Xavier
Adaptação e operação de luzes
Bruno Gaspar
Produção executiva
Forum Dança (1996), O Rumo do Fumo
Apoio
Casa da Juventude de Almada, Re.al / Amascultura
Produção Culturgest, Lisboa, 1996, "Homenagem a Josephine Baker"

Duração
20 min




o solo é fantástico. tão poucos elementos mas tão fortes. o rosto que se transfigura continuamente, sob a acção da luz, das palavras, da imagem, do movimento. o corpo que se metamorfoseia na luz, na nudez, em contínuo movimento que parece ser conduzido pelas mãos, quase quase como se existissem cordas de marionetas presas nalguns dedos. cordas manuseadas por uma entidade omnipresente, jogando com o corpo, pesado mas fluído, suspenso mas em desequilíbrio. entidade interior, cuja força vem da alma para as palavras.

uma... tris-teza..., uma... con-fusão..., um... vazio..., uma... ter-nura... um des-gosto... ... A-troz(e)s.


escreve Vera Mantero no programa de Solos:

Pensava a regressada Josephine por volta de meados de Agosto de 1995:
"Depois de ouvir um discurso na rádio do presidente português Mário Soares (não me lembro se no 25 de abril se no 10 de junho), em que ele falava do mundo neste momento com qualquer coisa que se deve poder chamar alguma elevação de espírito (que é uma coisa que infelizmente surpreende imenso por estes dias num político, e que se ouve com imenso agrado), associei esse discurso ao Glenn Gould e às suas Variações Goldberg (as da maturidade), ao Kazuo Ohno, e a uma expressão que me surgiu na cabeça, "grandeza de alma". O meu grande desejo de uma vitória do espírito, acho que é o que esta associação revela.
É uma coisa que eu gostava de encontrar ou de criar, um amplo território em que a riqueza de espírito reinasse. (Será educação massiva a resposta?). Este espírito de que falo não tem vontade nenhuma de anular o corpo, nem vergonha nenhuma do seu desejo e do seu sexo, o que este espírito de que falo tem vontade de anular é a boçalidade, a assustadora burrice, a profunda ignorância, a pobreza de horizontes, o materialismo, etc. etc. (infelizmente a lista tem ar de ser longa...). Seria uma nova dicotomia, não a estafada "corpo-espírito" (e vazia de sentido, francamente!), mas a infelizmente actual “burrice-espírito” (ou talvez “boçalidade-espírito”). Ou todas as possíveis variantes (era bom decidir-me por uma...)".

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e já que Josephine Baker regressou por uns minutos, aqui ficam alguns registos de outras aparições:

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