junho 28, 2008

nice save on the juice!

aeroporto de Minneapolis, entre vôos, como um autêntico pai natal: mochila de trabalho às costas (laptop, papéis, livros, casacos, cadernos... kilos...), a tira-colo a bolsa pessoal (carteira, passaporte, máquina fotográfica, livros, bloco de notas, bolsa de lápis, coisas e coisinhas...), e entre braços um mega dossier, enfiado num saco, que insisto em levar para uma certa biblioteca do Porto. 10mins para restabelecer energias. do balcão à mesa, uso o saco-dossier como tabuleiro, onde transporto uma garrafa de um magnífico sumo, deitada, e uma simpática salada com sandwich quente. centro de massa do meu corpo completamente alterado, a noção da horizontalidade do tabuleiro é severamente afectada. o sumo escorrega. não tenho como evitar a queda da garrafa de plástico.

a garrafa cai. evito o impacto fatal com o chão, por um movimento bem colocado e cego de pé.

isto tudo para explicar que há uma costela de simpatia inata em boa parte dos americanos. uns bons minutos depois, ao sair, o tipo sentado na mesa do lado não resistiu ao comentário de todo o movimento com um rasgado sorriso: nice save on the juice!

junho 27, 2008

los alamos

a menos de uma outra zona da cidade, onde o traço das casas de adobe ou de pedra ousa mostrar-se, repete-se a geometria das pequenas cidades dos u.s.a.. muda a natureza: a geografia e o clima. los alamos fica quase no fim do mundo. e isso não é necessariamente mau. o número de habitantes deve rondar os dez mil. há tudo o que se possa esperar, e há parques de diversões para crianças. com baloiços, escorregas, piso de borracha, tudo limpo como mandam as regras. faltam as crianças e adultos a passear-se pela rua. e quando "os há", faltam os gritos, a berraria, os rostos sujos, as roupas manchadas e amarrotadas.

imagens para quebrar esta monotonia: um miudo "maltrapilho", deliciado, a sair de um Baskin-Robbins, com a boca e lábios esborratados em tom de chocolate browny delight w/ oreo chips; a percepção do marulhar (sim, marulhar!) do vento nas copas das árvores; um aroma frequente que lembra manjericão. e outras....

pequena mesa, com a montanha sangre de cristo bem ao longe, depois do imenso vale cruzado pelo Rio Grande

estas nuvens, sejam cúmulos, ou nimbos....
quase que se lhes toca.




no silêncio de um canhão,
a caminho do Bandelier National Park

céus de los alamos,
inspirada em Ansel Adams




o magnífico north road inn


o gazebo do north road inn





entranhas de carro estacionado num
parque da Univ. do Novo México

pôr do sol nas montanhas Jemez

junho 26, 2008

rainha da noite

no lugar certo, no dia certo. ocasião única para observar esta preciosidade do deserto.

a flôr, do tamanho da minha mão bem aberta, desabrocha na perfeita escuridão, a partir de um cacto de aparência muito pobre. facilmente seria confundido com ramos de hera indesejados.

o facto mais interessante, é que cada flôr desabrocha uma única vez, numa certa noite de verão, normalmente em Junho!

a fragrância que fica no ar é exoticamente cativante.

as pétalas fecham-se definitivamente com os primeiros raios da alvorada.

Informação recolhida aqui.



[foto: ka_08@los alamos,nm,usa]

Nomes alternativos: 
Night-Blooming Cereus, Queen of the Night ~ Deer-Horn Cactus, Peniocereus greggii (Cereus greggii)

tuda,

... que bela árvore para trepares!!!


[ka_08@los alamos]

junho 25, 2008

Viva



cadela côr de mel, olhos doces. entrega-se a festas. corpo volumoso. encontrada num parque de estacionamento, maltratada, abandonada, moribunda. foi levada para uma nova casa depois de devidamente tratada. rebaptizada Viva. soube-se mais tarde o paradeiro dos seus donos. seguiu-se a tentativa de restituir Viva à sua antiga casa. uma mulher, de olho negro, abre a porta. depois de contemplar essa nova Viva, a mulher diz - imagina-se que em tom neutro - esta casa não é boa para a cadela. responde o novo dono: esta casa não é boa para si. ao contrário de Viva, aquela mulher teria potencialmente o dom da escolha.[ka_08@NM,USA]

junho 24, 2008

mais insónia...

d' As Feridas, por hmbf, no Insónia:
... Roubamos frases, roubamos livros, roubamos ideias. Não roubamos feridas. O mais que podemos fazer, e por isso ficarmos eternamente gratos, é partilhar o pouco delas que o talento nos permita revelar e os olhos puros de alguém consigam ver. A esse gesto de partilha e de generosidade, a esse sim, a esse eu não me importo de chamar amor.



este post e todos os raios-de-sol-"Bom Dia" e raios-de-lua-"Boa Noite" que têm iluminado as leituras de Insónia transportaram-me para a memória da leitura sôfrega do último livro de Joan Didion, The Year of Magical Thinking**. que tal considerar também o casal Joan Didion e John Gregory Dunne?

**sobre o livro

Georgia O'Keeffe and Ansel Adams: Natural Affinities

Santa Fe, New Mexico, USA. vale a pena espreitar aqui.




[Georgia O'Keefe,Dark Tree Trunks/1946]

[Ansel Adams, Aspens/1958]





I wish people were all trees,
and I think I could enjoy them then.


Georgia O'Keeffe (1921)

perpetuum katharsis


[Perpetuum Mobile, Penguin Cafe Orchestra]

a catarse das palavras perturba. contive saltar para o meio da sala e berrar um "PÁRA!"
dentro uma pequena espiral que se desenrola a partir de um pequeno grão que não é mais do que uma pequena ideia que se desenrola a partir das mesmas palavras ainda que as emoções não tenham nome ou lhes consiga apontar uma forma, abre preenche todo o espaço da consciência e ainda que a planície seja imensa e que a vista alcance milhas e milhas de distância para além de desfiladeiros e "mesas" distantes traçando linhas bem definidas no horizonte longínquo ainda assim a espiral continua o seu movimento contínuo enovela-se explode desenrola-se e com ela emoções sem nome ou sem marca, apenas esta corrosão vidrada nos olhos protegida pela distância "PÁRA!" salto para o meio da sala mas a sala não tem paredes e o grito perde-se sem sequer ser ouvido e dentro de uma pequena espiral que se desenrola...

junho 23, 2008

atrás do sol durante 7 fusos horários

segunda tentativa de passar despercebida no fundo da mala:


apesar do granizo na pista num dia de verão, correu tudo bem. aeroportos, aviões e situações afins podem ser vistos como verdadeiros desafios, e mecanismos para trabalhar a calma e a paciência. principalmente quando os imprevistos surgem pela mão da natureza, mostrando que nada podemos fazer para a contrariar. desta vez tive sorte.

a terceira viagem foi a mais bela. o a320 planou a altura moderada, pois a tirada Detroit-Minneapolis não é assim tão longa. Minneapolis-Saint Paul, as Twin Cities (a lembrar everything but the girl**) vistas por entre as nuvens ao compasso de contornos de avião.


conquistados os 7 fusos horários e uma noite de sono, um novo mundo a descobrir. um cheiro a western, a México, a Grand Canyon (mas ainda não será nesta viagem...) casas de adobe, a planície bruscamente interrompida pelos sulcos sombrios da montanha, o castanho, predominantemnte o castanho, entrecortado por pequenas árvores que mais parecem arbustos gigantes. as reservas índias. as intermináveis estradas.


(I25: Albuquerque - Santa Fé)


(I84 + 502: Santa Fé - Los Alamos)

são apenas amostras de paisagens. há coisas que não se fotografam. quanto muito pintam-se. escrevem-se. mostram-se pela/na forma que nos impressiona. e por aqui já passaram muitos artistas que o fizeram tão bem... mas isso virá depois.

[por curiosidade, daqui a Bagdad, Arizona, são 617 milhas, aproximadamente 9 horas de condução]





**Twin Cities, EverythingButTheGirl:
...
(Are you ever coming back?) Yeah yeah... (Are you ever coming back?)
No one calls me up to say "Don't let that life lead you astray"
(Don't forget to come back)Yeah! (Don't forget to come back)

junho 19, 2008

Porto. Abandono. #2


[ka05@cordoaria]

junho 18, 2008

Eu Não, Samuel Beckett, pelo Teatro Plástico

[12-21 Junho 2008, no Museu Nacional Soares dos Reis, Porto]

Um trabalho para vivenciar pertinho do palco, mas também uma peça a ler (ficou-me como trabalho de casa). Esta mulher, devotada ao silêncio desde pequena, terá aqui 60 ou 70 anos. O silêncio é exterior, porque no interior a voz é permanentemente articulada, as ideias atropelam-se até ao sufoco. Não se sabe o porquê desse silêncio, mas imagina-se uma experiência traumática.

Das referências por onde passei fico a crêr que o Teatro Plástico fez uma adaptação muito fiel ao texto original de Beckett. O monólogo esteve excelente. A densidade do texto e a intensidade da interpretação exigem atenção extraordinária.

A catarse das palavras perturba. Contive saltar para o meio da sala e berrar um "PÁRA!".

Janelas abertas nº 2

Sim, eu poderia abrir as portas que dão pra dentro
Percorrer correndo, corredores em silêncio
Perder as paredes aparentes do edifício
Penetrar no labirinto
Um labirinto de labirintos dentro do apartamento
Sim, eu poderia procurar por dentro a casa
Cruzar uma por uma as sete portas, as sete moradas
Na sala receber o beijo frio em minha boca
Beijo de uma deusa morta
Deus morto, fêmea língua gelada, língua gelada como nada
Sim, eu poderia em cada quarto rever a mobília
Em cada um matar um membro da família
Até que a plenitude e a morte coincidissem um dia
O que aconteceria de qualquer jeito
Mas eu prefiro abrir as janelas
Pra que entrem todos os insetos
[Letra por Caetano Veloso]

junho 15, 2008

khalu
elabora
estudo
prático
sobre
formas
de
se
fazer
transportar
incógnita
numa
viagem
que
não
vai
realizar

She Don't Use Jelly

ganho a consciência de que os sons na minha pilha de música vão-se juntando, ao longo dos anos, por intermédio de mãos próximas - a xfm também foi uma dessas "mãos"... ao contrário de livros em livrarias, acessíveis e próximos, sempre achei intimidante a multiplicidade de escolhas escondidas em caixas de prateleiras de discotecas. um autêntico labirinto. lêr sobre música não me é intuitivo, falta-lhe som. (não há regra sem excepção... !)

assim, as caixas, os cds, os mp3s, vão ganhando outros nomes, lugares, contextos. a descoberta de novos sons não vem condicionada pela leitura da crítica musical de um qualquer jornal, mas é recebida à luz do conhecimento e da relação que temos com a pessoa que estende essa mão recheada de novos caminhos. gosto mesmo muito destas "oferendas". e depois... tudo se cruza. o cruzamento destas partilhas gera uma rica multiplicidade de sons.



chego, então, a Lounge-a-Palooza - taking lounge music to its illogical conclusion [Hollywood Records, 1997]. esta colecção de covers continua a arrancar-me boa disposição e sorrisos. fica a faixa 3. tendo ouvido primeiro o cover, estava longe de imaginar o estilo do original. os Ben Folds Five fizeram um bom trabalho... e os Flaming Lips também!


o cover(1997), Ben Folds Five:

aqui, um pouco mais afinados




o original(1993), Flaming Lips:

junho 09, 2008

waiting underground , em repeat...

[Patti Smith, Peace and Noise]

if you believe all your hope is gone down the drain of your humankind
the time has arrived you'll be waiting here as I was
in a snow-white shroud waiting underground

there by the ridge be a gathering beneath the pilgrim moon
where we shall await the beat of your feet hammering the earth
where the great ones tremble in their snow-white shrouds waiting underground


if you seek the kingdom come, come along waiting by the ridge
there'll be a gathering beneath the pilgrim moon
where the [railroad] thunders

oh where we shall await the beat of your feet hammering the earth
and as the earth resounds where the great ones tremble
and your humankind becomes as one and then we will arise
in our snow-white shrouds when we'll be as one
but until that day we will just await in our snow-white shrouds
waiting underground in our snow-white shrouds
waiting underground

junho 04, 2008

Crónica Feminina







com três dias extra e sala cheia, a ressurreição da velhinha Crónica Feminina por Laura Ferreira em formato actualizado e bem disposto. sobre o palco muito charme... os temas, esses, não são assim tão velhinhos. e podem ser sempre abordados à luz de novas perspectivas.

deixo aqui um dos sons que recheia esta crónica - para além da fantástica voz da Joana Manarte: Fascinação, Elis Regina. uma das primeiras músicas que apanhei de ouvido num teclado, nesses tempos já remotos da novela Casarão*...



* hum... segunda referência a Casarão no kasca....

junho 03, 2008

um cd e um sorriso




engano ou não, está comigo.

há feitiços no ar, e um em particular.

Spell.

mais uma vez, Ginsberg bate-me à porta.

soa a mantra.

paz que se liberta do ruído.

paz que é ruído que é paz.



junho 02, 2008

TicTac, B.I. bilhete de ida

[texto e encenação: Tó Maia]





- Os teus olhos... não me vejo neles... -




[ka@estúdio latino, porto 28-5,1-6/08]