março 16, 2008

Alvess em Serralves

EN UTILISANT SON EXTENSIBILITÈ
LE SEIZIMÈTRE D'ALVESS
EST LE SEUL INSTRUMENT DU MONDE
CAPABLE DE MESURER JUSTE


[Comissariado: João Fernandes e Sandra Guimarães; Produção: Museu de Serralves]

A exposição de Alvess (Manuel Alves, Viseu 1939) começa, como começa a escrita de um precioso livro. Uma tela que, aposto, deve ter cerca de 1,60m de altura, onde se mostra a face de um livro de registo de escriturário, capa dura, etiqueta rectangular de cantos aparados, ainda em branco. (Do branco haverá mais a escrever.) Depois, uma sucessão de telas. Deveria escrever papel porque parece ser essa a ideia de Alvess: a tela-papel. A tela manuseada como se de papel se tratasse, o papel do livro que começamos a desvendar a cada passo.

Acho que é possível imaginar Alvess na execução destas obras, com minúcia, precisão, e uma certa leveza no contacto com a tela, pois que o papel também tem de ser tratado com um certo carinho, como quando folheamos um livro que nos é muito próximo. É assim que imagino Alvess no seu espaço criativo. Folheamos este livro de páginas com réguas, furos, catalogações, marteladas indevidas (uma graça a descobrir), fechos éclair, e terminamos num virar de página muito original, a folha teimosa que fica firme sobre o conjunto, enquanto que a malha fantástica de palavras alinhadas se vira sobre o canto inferior direiro ao nosso movimento imaginado do virar da página pela mão. As réguas estão muito presentes, mas desconstruídas, distorcidas, com novos comprimentos padrão. A medida é sempre relativa... Alvess é genial: LE SEIZIMÈTRE D'ALVESS EST LE SEUL INSTRUMENT DU MONDE CAPABLE DE MESURER JUSTE!, lê-se na folhinha no interior da preciosa caixa do original instrumento de medida elástico...

Há muito mais Alvess para conhecer em Serralves. A exposição está muito equilibrada. É-me difícil apontar uma obra preferida, ou um conjunto. Mas olho para a caixa de vassoura de varredor parisiense com extrema ternura (escapa-me o nome original da obra). Para ver: registos das suas performances/happenings em Paris por volta de 1970, pintura, fotografia, arte postal, objectos (onde se insere o seizimètre da imagem de cima), e os magníficos desenhos a guache da última sala.

A brancura e a luminosidade do piso inferior de Serralves acolhem com perfeição o silêncio que toda esta obra tem como envolvente. As longas e estreitas escadas, descidas da escuridão para a luz, são porta de entrada previlegiada para o mundo desconhecido de Alvess.

A ver! Eu vou voltar.

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