novembro 28, 2008

cloud nine: o Sétimo Céu - take 2...

[reposição de uma kasca de jan 08, ligeiramente alterada]

... to be in Cloud Nine é a expressão equivalente para o nosso "estar no 7º céu". O êxtase, a felicidade, o máximo contentamento, o melhor dos melhores...

Cloud Nine, de Caryl Churchill, devora-se através da coexistência de estados hilariantes, irónicos e reflexivos, dentro das temáticas da questão do género, sexualidade, política e sociedade. Faz pensar. Propicia discussão.

Após a produção pela companhia de teatro Escola de Mulheres em 1997, o Sétimo Céu está agora no renovado Cine-Teatro Constantino Nery até dia 7 de Dezembro. A não perder!

[Livro da foto: Theatre Communications Group; 1st TCG ed edition (April 1995)]

novembro 21, 2008

o grão de areia

[para leitura em voz alta]

View With a Grain of Sand
[Wislawa Szymborska]

We call it a grain of sand,
but it calls itself neither grain nor sand.
It does just fine, without a name,
whether general, particular,
permanent, passing,
incorrect, or apt.

Our glance, our touch means nothing to it.
It doesn't feel itself seen and touched.
And that it fell on the windowsill
is only our experience, not its.
For it, it is not different from falling on anything else
with no assurance that it has finished falling
or that it is falling still.

The window has a wonderful view of a lake,
but the view doesn't view itself.
It exists in this world
colorless, shapeless,
soundless, odorless, and painless.

The lake's floor exists floorlessly,
and its shore exists shorelessly.
The water feels itself neither wet nor dry
and its waves to themselves are neither singular nor plural.
They splash deaf to their own noise
on pebbles neither large nor small.

And all this beneath a sky by nature skyless
in which the sun sets without setting at all
and hides without hiding behind an unminding cloud.
The wind ruffles it, its only reason being
that it blows.

A second passes.
A second second.
A third.
But they're three seconds only for us.

Time has passed like courier with urgent news.
But that's just our simile.
The character is inverted, his hasts is make believe,
his news inhuman.

[tradução: Stanislav Baranczak e Calre Cavanagh, faber and faber]

novembro 20, 2008

a cegueira e o lobo

durante o Ensaio Sobre a Cegueira [Fernando Meirelles, 2008] renasceram recorrentemente as memórias de um outro filme, Time of the Wolf [Michael Haneke, 2003]. talvez por isso, a sensação ao abandonar a sala escura era de alguma revolta no estômago e aperto no pescoço que só surgem em situações de muito stress, pânico, ou medo. talvez também em situações de alguma delicadeza emocional. enfim... são filmes que se complementam.

ainda não li o livro de Saramago, mas partindo do princípio que a adaptação é fiel à ideia do autor, Meirelles filma a metáfora da cegueira, levando uma comunidade a situações extremas de conflito e de sobrevivência. cegos são os que vêem, basta recusar um olhar, ou negar a realidade. no ensaio, toda a experiência contribúi para testar os verdadeiros limites da existência e a integridade humana apenas (...) para renascer da doença, dando uma nova oportunidade para reviver a realidade que nos rodeia. é claramente uma visão branca, esperançosa, da cegueira e do Homem. de uma certa paz, apelando à solidariedade. os bons e os maus. sem máscaras. a verdadeira natureza em expressão.

o Tempo do Lobo comunga do teste dos limites da existência e integridade. é esse o centro de uma história sem princípio e fim concretos. percebe-se um mundo ameaçado. populações deslocadas dos grandes centros em busca de sobrevivência. a incerteza da duração desse estado de sítio. não se sabe a causa. terrorismo. contaminação biológica de larga escala. guerra. não há qualquer informação. apenas grupos de deslocados, de todos os extractos sociais, um movimento colectivo, que se vai tornando unidireccional, no sentido da esperança da segurança. a história nao tem fim. porque rapidamente se circunscreve a uma estação de combóios, um refúgio, a esperança de um combóio salvação que não chegará. e a partir daí, as dinâmicas comunitárias de "tempos de sobrevivência". a metáfora são os lobos, não a cegueira. os lobos que cercam a presa até, metaforicamente, a comer viva. somos levados a esta realidade pelas mãos de uma família destroçada, a mãe e os seus filhos. e é com eles que ficamos presos naquele apeadeiro sobrepopulado. Haneke só nos oferece o fim da história do personagem integridade. e ao contrário de Saramago, a mensagem é fatalista. e pesa, porque se desenrola num cenário ficcionado bem mais real do que queiramos imaginar. poderá acontecer, se não está já a passar-se nalgum ponto do planeta...

e talvez por já ter saído de uma sala escura, há cinco anos atrás, perturbada, angustiada, a pensar nesta nossa vidinha, a mensagem deste ensaio não me deixou nada pacificada. em ambos os filmes, não se sabe bem que mundo vai projectar-se-nos do lado exterior da porta da sala escura.

um filme escuro. outro branco sobre-exposto. a complementaridade destes dois filmes também expressa pela fotografia. ficam os trailers.



novembro 19, 2008

novembro 14, 2008

underground

aproximam-se oportunidades para visitar o teatro debaixo da areia/arena*, nos próximos dias 8 e 9 de Dezembro, no espaço anjos urbanos. até lá, perco-me pelas cidades de Vasco Mourão, calcorreando escadas, espreitando portas e janelas... quem sabe se não encontro o Lorca em pessoa, em discussão acesa com Figura de Guizos e Figura de Parras!

[* O Público, Gabriel Garcia Lorca]
[desenho de Vasco Mourão - clicar na imagem...]

novembro 11, 2008

boca de incêndio


à falta de incêndios para extinguir, a água derrota pacientemente o metal. gota a gota. chapa em pequenas lascas flocos matizadas. chapa entumecida. gangrenada. corroída. transtornada.
[ka@fd.up.porto.pt/nov08]

outono...

já são oito anos de porto, e não lembro um outono tão belo quanto este



imagens registadas em cima do joelho. falta o registo nocturno da cidade escondida entre o nevoeiro, e o contraste de cores que a chuva delega ao sol...

novembro 03, 2008

chuva de pétalas amarelas

[viciada. completamente viciada. droga completa. o dedo que volta ao botão a cada seis minutos. efeitos secundários? o cérebro expande contra o osso - esta dolorosa pressão virá do inverno precoce ou desta iluminação recorrente? - facto certo certo é uma empola em forma de espinha que cresce sobre o coração. resultado crú de tanta luz. e Feist volta ao princípio... escala descendente alternada e suspensa no piano...
não cansa.
é um abraço. ]


what grew
and inside who
first so simple was the vow then the chorus sang about
your shoulder the mooring for me
like water lost in the sea

the cold heart will burst if mistrusted first
and a calm heart will break when given a shake

i’m a stem now pushing the drought aside
opening up
fanning my yellow eye
on the ferry that’s making the waves wave
illumination this is how my heart behaves
...

[Feist, The Reminder]

novembro 02, 2008

de haver relento [Andreia C. Faria]

grande hesitação. o primeiro poema? "A dor era mansa e as sombras /tingiam os corpos de uma incidência vegetal..." ou um poema imagem?

Derramavam-se sobre os móveis prometendo
calor no Inverno, as excessivas subtilezas
de Março ou
um crescer maligno de glaciares em
Agosto
Quando a voz morria as mulheres saíam
para ver
a luminescência do céu tombando pouco
importava que lhes caísse basta
um templo para caiar de branco uma cidade

[Andreia C. Faria, Cosmorama]

fica aqui um poema imagem, porque de haver relento pode ser um contemplar de imagens soltas, pode ser o calcorrear cúmplice de uma narrativa poética que se desvenda página a página, pode ser leitura contínua. cada imagem transcende a dimensão da paisagem. há um sentimento transbordante aos seres-objectos que as habitam, num desfilar preciso, cinematográfico. foi lançado ontem na maria...

andreia, para quando o próximo?

em boa companhia


neste cantinho ouvem-se as vozes de:
  • T.S.Eliot

  • Paul Eluard

  • Andreia C. Faria

  • Laurence Ferlinghetti and City Lights friends...