o natal tem rituais e promete sempre reencontros. para lá do encontro da família, presentes as vozes que se revelam como verdadeiros abraços ternos através da curta distância telefónica. são os amigos que tivemos de deixar noutros espaços, que a corrida diária priva à nossa companhia, e a quem voltamos incondicionalmente como se a separação não fosse mais longa que um ontem.
dia 24 de dezembro, 16h-18h. sei que a tua voz volta por esta altura. eu estarei de roda dos sonhos, entre a mão que se afunda na massa envolvendo ovo a ovo, ou já na fase mais dolorosa das frituras, até à saturação do olfacto em vapor de óleo. falamos das famílias, das rotinas, partilhamos alguns códigos. reafirmamos a vontade do reencontro. trocamos votos de boas festas, e medimo-nos pelo nível de contentamento à boleia do ritmo das palavras ditas. e será sempre assim, até que um de nós falte. ficará sempre um sorriso no rosto, esboçado com o gesto de pousar do telefone.
há também a voz escrita em postais de natal que não quero deixar de enviar. também falam. tal como os postais que incondicionalmente recebo todos os anos, onde percebo a fragilidade da escrita, a velhice. são sinais de alerta para a fragilidade da vida, com as suas surpresas, como uma amiga muito especial, com os seus 88 anos, que calcorreia toda a vila para dois dedos de conversa, uma surpresa doce, e mimos. sempre os mimos. eu mimo-a, aquecendo-lhe as mãos entre as minhas.
[título alternativo: boas festas anti-sms]