dezembro 26, 2008

vozes em forma de abraço

o natal tem rituais e promete sempre reencontros. para lá do encontro da família, presentes as vozes que se revelam como verdadeiros abraços ternos através da curta distância telefónica. são os amigos que tivemos de deixar noutros espaços, que a corrida diária priva à nossa companhia, e a quem voltamos incondicionalmente como se a separação não fosse mais longa que um ontem.

dia 24 de dezembro, 16h-18h. sei que a tua voz volta por esta altura. eu estarei de roda dos sonhos, entre a mão que se afunda na massa envolvendo ovo a ovo, ou já na fase mais dolorosa das frituras, até à saturação do olfacto em vapor de óleo. falamos das famílias, das rotinas, partilhamos alguns códigos. reafirmamos a vontade do reencontro. trocamos votos de boas festas, e medimo-nos pelo nível de contentamento à boleia do ritmo das palavras ditas. e será sempre assim, até que um de nós falte. ficará sempre um sorriso no rosto, esboçado com o gesto de pousar do telefone.

há também a voz escrita em postais de natal que não quero deixar de enviar. também falam. tal como os postais que incondicionalmente recebo todos os anos, onde percebo a fragilidade da escrita, a velhice. são sinais de alerta para a fragilidade da vida, com as suas surpresas, como uma amiga muito especial, com os seus 88 anos, que calcorreia toda a vila para dois dedos de conversa, uma surpresa doce, e mimos. sempre os mimos. eu mimo-a, aquecendo-lhe as mãos entre as minhas.


[título alternativo: boas festas anti-sms]

fotograma virtual #2

khalu passa boa parte dos dias no alto da sua torre, hotel de luxo, casa de férias, o que se lhe queira chamar. o hotel da khalu fica umas quantas portas abaixo, na rua. está feliz. mas nada como mostrar-lhe novas aventuras. novos espaços, pessoas, cheiros, sons... stress?! não é palavra que ela conheça. nem os miados da viagem foram além do seu estado refilão habitual de gata mimada.
já noite cerrada, abrimos a porta da rua e khalu ali estava, como quem tocou à porta e espera entrar. ainda me perguntaram: "é ela?!", sim era mesmo ela. não sei há quanto tempo ali estava, quando saiu do seu "hotel", por onde andou, mas sei que nos esperava, que entrou em casa com toda a naturalidade, que sabia onde estávamos e que não nos quis deixar. uma aventura que poderá ter durado umas 2h! resumo da kasca: a khalu já abre portas.

dezembro 24, 2008

fotograma virtual #1

cheguei ontem ao alentejo. ainda à procura de um espaço quente. o quarto rejeita-me, gelado. falta-me um cobertor, falta-me o peso de um cobertor. discute-se decoração: uns cortinados que me incomodam a vista. mas tudo isto é a falta de mimos de gente bem habituada, contraste a outros que nem mimos nem bons hábitos. é natal. o frio continua. menos mal, não chove. o céu nocturno é límpido.

dezembro 18, 2008

sonhos... [com Glenn Gould/Bach]

perdida por terras de castelo de vide em pleno agosto, fui fulminada pela concretização do cenário de um sonho algo recorrente. todos os elementos batiam certo, ao ponto do coração acelerar um pouco, em ansiedade, questionando-se se o grande tronco estaria mesmo atravessado na estrada, depois da longa recta, na curva apertada que aqui ainda não se deixava adivinhar. ainda assim, o pé pesava-se sobre o pedal, pedindo uma resposta rápida. mas o carro não era vermelho, tal como no sonho, e eu não estava rodeada de rostos desconhecidos. depois da curva o sonho perdura, sem significado, sem prenúncios, sem fatalismos.

isto tudo para chegar a outro tipo de sonho, os pequenos sonhos que nos levam a vivenciar novas situaçoes, acções e desafios. muitos deles, ficando por realizar, alimentam propósitos e razões de existir. são puras especiarias nas rotinas sensaboronas dos nossos dias. a ansiedade de descobrir o que se revela depois da curva. eu... concretizei um sonho, com a ajuda imprescindível de um grupo de pessoas espectaculares. logo, tenho um sonho a menos. e ainda que o propósito deste sonho não fosse muito importante, sinto que me arranquei um pedaço de mim. não escapei à posterior sensação de queda no vazio.

para já vou preencher um pouco desse pedaço regressando a Bach e a Gould, e vou convencer-me que um próximo sonho digno de substituir o espaço ocupado pelo anterior pode muito bem ser o de um dia vir a passear os meus dedos sobre um teclado como Gould o faz enquanto trauteia as Goldberg, um sonho para o resto dos meus dias...



dezembro 15, 2008

Em Geral, e Em Particular [Djuna Barnes]

uma pequena amostra das leituras da tarde no gato vadio, e um regresso do kasca a Djuna Barnes [aqui e aqui]





Em Geral

Qual a toalha de altar, qual o pano fino
Que não tem um preço?
Para quê lances, truques no jogo
Sem uma finalidade?
Mas a ti apreciámos-te ainda um pouco
Mais do que a Cristo.




Em Particular

Qual o trapo preso à cintura, qual o farrapo mais sórdido
Que não tem um preço?
Para quê menear o corpo, sentir a luxúria
Sem uma finalidade?
E assim adorámos-te um pouco
Mais do que a Cristo




In General

What altar cloth, what rag of worth
Unpriced?
What turn of card, what trick of game
Undiced?
And you we valued still a little
More than Christ.
In Particular

What loin-cloth, what rag of wrong
Unpriced?
What turn of body, what of lust
Undiced?
So we've worshipped you a little
More than Christ.


[O Livro das Mulheres Repulsivas, &etc, trad. Fernanda Borges]

dezembro 14, 2008

saturday night fever

mantra da noite



...
there's four new colors in the rainbow
an old man's taking polaroids
but all he captures is endless rain, endless rain
he says listen, takes my head and puts my ear to his
and I swear I can hear the sea
...

dezembro 08, 2008

desafios...

... está bem, menina tangas, vou quase cumprir:

Five lonely women going mad quietly by themselves, in spite of husband and children or rather because of them. Doris Lessing, em The Golden Notebook (Harper Perennial), o mais próximo à espera de ser lido.

onde está o misticismo do desafio?

eu desafio cinco almas inspiradas a deixar cinco místicas idéias com base na frase que me calhou em sorte!

(e se este desafio já anda por aqui há mais de um ano, já alguém se deu ao trabalho de compilar as infinitas frases soltas?)

dezembro 06, 2008

as escolhas manuseadas da inês*...

... quando não está entretida com a khalu:

palavras:
- a peste, camus
- números vários da revista "tabacaria"
- os contos, de virginia woolf
- eclesiastes (apresentado por jorge sampaio)
- profetas menores (apresentado por manuel poppe)

sons:
- pianoworks, erik satie
- baile no bosque, trovante

imagens:
- éloge de l'amour, j.l. godard
- alphaville, j.l. godard
- fahrenheit 451, françois truffaut

eu partilhei com ela o seu livro de actividades do carteiro paulo. agora já voltou tudo aos seus lugares...

*a.k.a. minibarda

dezembro 02, 2008

O Público [Federico García Lorca]: leitura encenada

9 e 10 Dezembro 2008, 21h45, Anjos Urbanos

Produção: Teatro Aramá e Anjos Urbanos
Direcção: Tó Maia

reservas: 96 265 7894
email: teatroarama@gmail.com

N’O Público ressoam ecos surrealistas (...), o mundo íntimo do autor cruza-se com a sua reflexão sobre o teatro, como se arte e vida estivessem estreitamente unidas nesta etapa da sua criação literária. Esta obra (...) é um acto de auto-afirmação pessoal e artística(...). É uma explosão do mais genuíno substrato Lorquiano, que viu luz entre 1929 e 1930, empurrado pelos novos ares surrealistas e nova-iorquinos, mas que também estava profundamente enraizado no mais emblemático do seu autor, e em grandes escritores do teatro clássico e contemporâneo.
[em El Público, Maria Clementa Millán, Letras Hispánicas]

novembro 28, 2008

cloud nine: o Sétimo Céu - take 2...

[reposição de uma kasca de jan 08, ligeiramente alterada]

... to be in Cloud Nine é a expressão equivalente para o nosso "estar no 7º céu". O êxtase, a felicidade, o máximo contentamento, o melhor dos melhores...

Cloud Nine, de Caryl Churchill, devora-se através da coexistência de estados hilariantes, irónicos e reflexivos, dentro das temáticas da questão do género, sexualidade, política e sociedade. Faz pensar. Propicia discussão.

Após a produção pela companhia de teatro Escola de Mulheres em 1997, o Sétimo Céu está agora no renovado Cine-Teatro Constantino Nery até dia 7 de Dezembro. A não perder!

[Livro da foto: Theatre Communications Group; 1st TCG ed edition (April 1995)]

novembro 21, 2008

o grão de areia

[para leitura em voz alta]

View With a Grain of Sand
[Wislawa Szymborska]

We call it a grain of sand,
but it calls itself neither grain nor sand.
It does just fine, without a name,
whether general, particular,
permanent, passing,
incorrect, or apt.

Our glance, our touch means nothing to it.
It doesn't feel itself seen and touched.
And that it fell on the windowsill
is only our experience, not its.
For it, it is not different from falling on anything else
with no assurance that it has finished falling
or that it is falling still.

The window has a wonderful view of a lake,
but the view doesn't view itself.
It exists in this world
colorless, shapeless,
soundless, odorless, and painless.

The lake's floor exists floorlessly,
and its shore exists shorelessly.
The water feels itself neither wet nor dry
and its waves to themselves are neither singular nor plural.
They splash deaf to their own noise
on pebbles neither large nor small.

And all this beneath a sky by nature skyless
in which the sun sets without setting at all
and hides without hiding behind an unminding cloud.
The wind ruffles it, its only reason being
that it blows.

A second passes.
A second second.
A third.
But they're three seconds only for us.

Time has passed like courier with urgent news.
But that's just our simile.
The character is inverted, his hasts is make believe,
his news inhuman.

[tradução: Stanislav Baranczak e Calre Cavanagh, faber and faber]

novembro 20, 2008

a cegueira e o lobo

durante o Ensaio Sobre a Cegueira [Fernando Meirelles, 2008] renasceram recorrentemente as memórias de um outro filme, Time of the Wolf [Michael Haneke, 2003]. talvez por isso, a sensação ao abandonar a sala escura era de alguma revolta no estômago e aperto no pescoço que só surgem em situações de muito stress, pânico, ou medo. talvez também em situações de alguma delicadeza emocional. enfim... são filmes que se complementam.

ainda não li o livro de Saramago, mas partindo do princípio que a adaptação é fiel à ideia do autor, Meirelles filma a metáfora da cegueira, levando uma comunidade a situações extremas de conflito e de sobrevivência. cegos são os que vêem, basta recusar um olhar, ou negar a realidade. no ensaio, toda a experiência contribúi para testar os verdadeiros limites da existência e a integridade humana apenas (...) para renascer da doença, dando uma nova oportunidade para reviver a realidade que nos rodeia. é claramente uma visão branca, esperançosa, da cegueira e do Homem. de uma certa paz, apelando à solidariedade. os bons e os maus. sem máscaras. a verdadeira natureza em expressão.

o Tempo do Lobo comunga do teste dos limites da existência e integridade. é esse o centro de uma história sem princípio e fim concretos. percebe-se um mundo ameaçado. populações deslocadas dos grandes centros em busca de sobrevivência. a incerteza da duração desse estado de sítio. não se sabe a causa. terrorismo. contaminação biológica de larga escala. guerra. não há qualquer informação. apenas grupos de deslocados, de todos os extractos sociais, um movimento colectivo, que se vai tornando unidireccional, no sentido da esperança da segurança. a história nao tem fim. porque rapidamente se circunscreve a uma estação de combóios, um refúgio, a esperança de um combóio salvação que não chegará. e a partir daí, as dinâmicas comunitárias de "tempos de sobrevivência". a metáfora são os lobos, não a cegueira. os lobos que cercam a presa até, metaforicamente, a comer viva. somos levados a esta realidade pelas mãos de uma família destroçada, a mãe e os seus filhos. e é com eles que ficamos presos naquele apeadeiro sobrepopulado. Haneke só nos oferece o fim da história do personagem integridade. e ao contrário de Saramago, a mensagem é fatalista. e pesa, porque se desenrola num cenário ficcionado bem mais real do que queiramos imaginar. poderá acontecer, se não está já a passar-se nalgum ponto do planeta...

e talvez por já ter saído de uma sala escura, há cinco anos atrás, perturbada, angustiada, a pensar nesta nossa vidinha, a mensagem deste ensaio não me deixou nada pacificada. em ambos os filmes, não se sabe bem que mundo vai projectar-se-nos do lado exterior da porta da sala escura.

um filme escuro. outro branco sobre-exposto. a complementaridade destes dois filmes também expressa pela fotografia. ficam os trailers.



novembro 19, 2008

novembro 14, 2008

underground

aproximam-se oportunidades para visitar o teatro debaixo da areia/arena*, nos próximos dias 8 e 9 de Dezembro, no espaço anjos urbanos. até lá, perco-me pelas cidades de Vasco Mourão, calcorreando escadas, espreitando portas e janelas... quem sabe se não encontro o Lorca em pessoa, em discussão acesa com Figura de Guizos e Figura de Parras!

[* O Público, Gabriel Garcia Lorca]
[desenho de Vasco Mourão - clicar na imagem...]

novembro 11, 2008

boca de incêndio


à falta de incêndios para extinguir, a água derrota pacientemente o metal. gota a gota. chapa em pequenas lascas flocos matizadas. chapa entumecida. gangrenada. corroída. transtornada.
[ka@fd.up.porto.pt/nov08]

outono...

já são oito anos de porto, e não lembro um outono tão belo quanto este



imagens registadas em cima do joelho. falta o registo nocturno da cidade escondida entre o nevoeiro, e o contraste de cores que a chuva delega ao sol...

novembro 03, 2008

chuva de pétalas amarelas

[viciada. completamente viciada. droga completa. o dedo que volta ao botão a cada seis minutos. efeitos secundários? o cérebro expande contra o osso - esta dolorosa pressão virá do inverno precoce ou desta iluminação recorrente? - facto certo certo é uma empola em forma de espinha que cresce sobre o coração. resultado crú de tanta luz. e Feist volta ao princípio... escala descendente alternada e suspensa no piano...
não cansa.
é um abraço. ]


what grew
and inside who
first so simple was the vow then the chorus sang about
your shoulder the mooring for me
like water lost in the sea

the cold heart will burst if mistrusted first
and a calm heart will break when given a shake

i’m a stem now pushing the drought aside
opening up
fanning my yellow eye
on the ferry that’s making the waves wave
illumination this is how my heart behaves
...

[Feist, The Reminder]

novembro 02, 2008

de haver relento [Andreia C. Faria]

grande hesitação. o primeiro poema? "A dor era mansa e as sombras /tingiam os corpos de uma incidência vegetal..." ou um poema imagem?

Derramavam-se sobre os móveis prometendo
calor no Inverno, as excessivas subtilezas
de Março ou
um crescer maligno de glaciares em
Agosto
Quando a voz morria as mulheres saíam
para ver
a luminescência do céu tombando pouco
importava que lhes caísse basta
um templo para caiar de branco uma cidade

[Andreia C. Faria, Cosmorama]

fica aqui um poema imagem, porque de haver relento pode ser um contemplar de imagens soltas, pode ser o calcorrear cúmplice de uma narrativa poética que se desvenda página a página, pode ser leitura contínua. cada imagem transcende a dimensão da paisagem. há um sentimento transbordante aos seres-objectos que as habitam, num desfilar preciso, cinematográfico. foi lançado ontem na maria...

andreia, para quando o próximo?

em boa companhia


neste cantinho ouvem-se as vozes de:
  • T.S.Eliot

  • Paul Eluard

  • Andreia C. Faria

  • Laurence Ferlinghetti and City Lights friends...

outubro 31, 2008

outubro 30, 2008

kasca de noz: invasão de simpáticas entidades peludas continua

numa noite esqueço-me do Pinguim, entretida e enternurada que estava na partilha das aventuras da Lulu. profanando um certo canto religioso, ouve-se em fundo gregoriano "o espírito da Lulu encheu a casa inteira, luuuuuluuuuuuuuuuuu lu lu..."
dois dias depois, a 300 km de distância e sem qualquer troca de palavras, Lulu ataca de novo, em sonhos. escrevia-me a barda:
"Até senti os beijinhos peludos que ela me dava! Parecia que ela estava mesmo ali! E andou a correr num chão de madeira duma coisa parecida com um sótão e depois vinha ter comigo, foi engraçado e estranho! Ela estava com aquele pelo muito fofinho que tinha no Inverno!"


a menina alvo desta noz:

[chatos! estes humanos são chatos! :) ]

outubro 25, 2008

sempre alerta!

enquanto me deleito com as cartas em Gatos Comunicantes [Assírio&Alvim, Fund. Arpad Szenes-Vieira da Silva], khalu faz que dorme e apanha ratos voadores...

outubro 23, 2008

just because...

outubro 19, 2008

Público [F.G.Lorca] antevisão

do segundo quadro (FP: figura de parras; FG: figura de guizos):

FG: Se eu me transformasse em nuvem?

FP: Eu transformava-me em olho.

FG: Se eu me transformasse em cáca?

FP: Eu transformava-me em mosca.

FG: Se eu me transformasse em maçã?

FP: Eu transformava-me em beijo.

FG: Se eu me transformasse em peito?

FP: Eu transformava-me em lençol branco.

Voz: Bravo! (sarcástica)

FG: E se eu me transformasse em peixe-lua?

FP: Eu transformava-me em faca.

FG: Mas, porquê? Porque me atormentas? Porque não vens comigo, se me amas, até onde te queira levar? Se me transformasse em peixe-lua, tu transformavas-te em onda do mar, ou em alga, e se quiseres uma coisa muito longe, para não desejares beijar-me, tu transformavas-te em lua cheia. Mas em faca? (...)
(...)

outubro 17, 2008

Persona [Bergman], As Boas Raparigas

no Estúdio Zero, Porto

até 2 de Novembro
Terça a Domingo às 21h45

texto de Ingmar Bergman
pela companhia As Boas Raparigas
Encenação: João Pedro Vaz
Tradução: Armando Silva Carvalho
Cenografia:
Cláudia Armanda
Design de Luz:
Nuno Meira
Sonoplastia:
Luís Aly
Figurinos:
Catarina Barros
Elenco:
Maria do Céu Ribeiro e Sandra Salomé

[foto:AsBoasRaparigas]
Sinopse [daqui]
A actriz Elizabeth Vogler deixa de falar durante uma representação teatral de Electra. O seu mutismo em relação aos que a rodeiam é total, sendo então internada numa clínica. Não está doente, simplesmente optou pelo silêncio. Alma, uma jovem enfermeira, fica encarregada de tratar dela. Quando, a conselho médico, as duas se isolam numa ilha, passam a desenvolver uma intimidade e cumplicidade crescentes. Com isso estabelece-se uma constante troca de identidades.


Ingmar Bergman escreveu Persona para o cinema: "O que eu escrevi não é um argumento de um filme no sentido habitual do termo. É algo que se assemelha mais a uma linha melódica que irei orquestrar (...). Por isso eu convoco a fantasia do leitor ou do espectador a fazer uso livre dos elementos que coloco à disposição." [Lágrimas e Suspiros, Persona, Dependência, I.Bergman, Assírio&Alvim]

este pequeno enquadramento pode ajudar a desvendar as opções de encenação do texto, tarefa que exige alguma ousadia, sendo o filme de Bergman tão marcante e bem conseguido. o público do Estúdio Zero deve dividir-se entre os que viram o filme e os que o não viram, entre os que dele se abstraem e os que o têm presente. o que aqui escrevo não é imune às minhas memórias do filme ao longo do decorrer da peça - e se dele me tivesse esquecido, estava lá um televisor para mo lembrar.

imagino que Persona toque cada pessoa de forma diferente. fascinam-me: o processo de descoberta entre Alma e Elizabeth, a comunicação de extremos entre o silêncio de expressividade corporal e a voz, a busca do diálogo contrastando com a busca do silêncio. desde a primeira vez que vi Persona que procuro uma razão para que o silêncio vocal de Elizabeth não se estendesse também à escrita: existem as suas cartas, entre as quais Aquela que marca a dinâmica da história. mas acima de tudo isto fascina-me o processo de troca/assimilação de identidades.

quanto à peça, desempenhos fortes com uma cenografia que me pareceu algo exagerada. não encontrei referências para a intenção do trabalho de João Pedro Vaz. talvez tenha procurado distanciar-se o mais possível do filme. sendo essa a sua opção não me parece conseguida. o processo de assimilação de identidades não é tão bem conseguido, até confuso.

leio o final da peça como um trunfo a Alma que, pela assimilação da personalidade de Elizabeth, consegue desvendar a actriz. na peça tudo é dubio. Elizabeth surge vestida de Alma, mas o personagem não deixa de ser Elizabeth. Alma demonstra bem a assimilação da frieza e a crueldade, características psicológicas de Elizabeth.

a história é muito mais do que assimilações, cenários, jogos de luz: o peso da(s) farsa(s) que transportamos nas nossas vidas - na peça, a farsa na existência de Elizabeth Vogler - longa discussão para mesa de café.

gostava muito de ver este mesmo Persona de João Pedro Vaz com a actriz Maria do Céu Ribeiro no papel de Alma, e a Sandra Salomé no papel de Elizabeth. um desafio... talvez alguém ouça...

a não perder, as fotografias em exposição no Estúdio Zero!

outubro 14, 2008

Virginia Woolf e Vanessa Bell

- a very close conspiracy -
de Jane Dunn, Virago Press ltd

uma dupla biografia, não cronológica, organizada pelos seguintes temas:
1. oneness
2. the chrysalis is broken
3. us two against them
4. death and freedom
5. marriage and betrayal
6. work is the real thing
7. husbands and sisters
8. sons and lovers
9. art versus life
10. the plunge into deep waters
11. debts repaid
[ka,out08]

esta leitura começou pelos bancos do aeroporto de gatwick, entrando pela madrugada dentro, na cumplicidade dos viajantes nocturnos que se deixam embalar com os ritmos das limpezas, dos seguranças, na noite em as férias foram dadas como terminadas. mas antes disso...

não sendo o género biográfico muito frequente nas minhas leituras, desencantei este livro na esperança de traçar, ainda que em cima do joelho, a rota que me levaria no encalço das marcas da existência de Virginia Woolf fora da grande metrópole. queria a imagem real da sua casa de campo e do rio, os lugares de acolhimento dos seus últimos anos (e dia) de vida. [a história da visita falhada não interessa aqui...]

ao longo das páginas da dupla biografia descobre-se a complexa, rica e interdependente relação que caracterizou a ligação das irmãs Vanessa e Virginia Stephens, a complementaridade das suas personalidades, o enquadramento na cultura das primeiras décadas do século XX, a riqueza do meio artístico da época numa rica luta de relevância entre intelectuais (escrita) e artistas (pintura), e sempre em fundo os valores da sociedade inglesa em mudança, e o peso da história familiar sempre tão marcada pelo espectro da perda pela morte.

o livro é indispensável para quem aprecia a escrita de Virginia Woolf.
a sua estrutura permite uma leitura não sequencial, temática.

ficam algumas notas citadas ao longo da dupla-biografia, dando um gostinho do que nele se pode encontrar:

carta de Virginia para Vanessa (1937):
"you cant think how i depend upon you, and when you're not there the colour goes out of my life, as water from a sponge; and I merely exist, dry and dusty. this is the exact truth: but not a very beautiful illustration of my complete adoration for you; and longing to sit, even saying nothing, and look at you"

Diário de Virginia Woolf... (1937)
'how do I mind death... there is a sense in which the end could be accepted calmly. that's odd, considering that few people are more immensely interested in life: & happy.'

Última entrada no Diário de Virginia, quando as memórias de infância voltavam a estar presentes, e pensando em Vanessa:
"to be one with the object one adored"
"how it would be if we could infuse souls"

outubro 10, 2008

patrão fora, dia santo na casa...

ou: dias para "não existir"
ou: desvendar a mensagem escondida

eu não queria ficar em lx. não queria mesmo. não queria reuniões de última hora. não queria ter saudades de lisboa, enquanto olhava o tejo chumbo e prata salpicado de laranja, lua provocadora a dizer-me "fica". não queria sentir o bairro alto a preparar-se para a noite. queria aquela conversa e não queria contornos. queria mais energia. queria que o sem abrigo que assobiava tão emotivamente o êxito da brandi carlile fosse músico e tivesse o tal sorriso que ela canta. queria brincar com a inês e a plasticina ("prastapina?"). queria ter deixado o interruptor da televisão desligado. queria que a khalu não quisesse festa às 4h30 da manhã. queria que não houvessem chaves. queria que a khalu descobrisse como desligar a tv que ligou, a berrar na madrugada, em vez de esconder-se no canto do armário, enquanto os vizinhos tentam acalmar a ira de quem quer dormir e não pode.queria que a reunião tivesse sido rápida, sem conversa da treta. directos aos assuntos. sem louros. queria que o telefone não se desligasse quando não deve. queria ser teletransportada. queria não ter sono ao volante. não queria ficar com o polinho encostado na saída da a1, e ele que ameaçou-me seriamente - deve ter percebido que se se recusasse ao movimento eu ficaria petrificada na berma da estrada a pensar em misticismos. ainda assim....
agora está tudo calmo. faltam pouco mais de 6horas para acabar o dia. ainda haverá tempo para mais surpresas?

outubro 07, 2008

"portugal vai escapar à recessão..." parece que diz victor constâncio...

Questionado sobre a possibilidade de Portugal entrar em recessão, o governador do Banco de Portugal disse não pensar nesse cenário para Portugal. «Não penso nisso», adiantou, lembrando que Portugal cresceu no segundo trimestre. (daqui)

VENHAM APRENDER CONNOSCO, que esperam?!

um clássico


Catherine Holly : Is that what love is? Using people? And maybe that's what hate is - not being able to use people.


Suddenly, Last Summer (1959)

a partir da peça de Tennessee Williams,
argumento: Tennessee Williams e Gore Vidal
realização: Joseph L. Mankiewicz

outubro 05, 2008

se esta rua fosse minha...*

* iniciativa Plano B,

já tinha saudades de me abandonar à noite, abdicando de alguns racionalismos, inspirando os sons, as cores, as vozes, ingerindo um pouco sem ameaçar em demasia o resultado do balão, com risos, sorrisos, gargalhadas, conversa despreocupada, pés de dança. até que a noite decidiu envolver-nos com as suas mãos mais frias. para trás encontros e reencontros, os você a transformarem-se em tu, a latinha azul a circular de mão em mão, golpes de vista a galgar lugares na fila da barraquinha dos finos, o matraquear das piruetas matraquilhadas do derby de pequenas barbies, fotógrafos apanhados em flagrante e em out of focus, a culminar com toda a malta a vibrar com os the urban voodoo machine. mesmo quem dizia que não queria ou já não podia. obrigada a todos! abraço gigante!!!


e para culminar, o verdadeiro teste. uma buzina, um vulto de carro, um estrondo, um sorriso incrédulo, um espelho em cacos, uma carcaça azul a voar na noite. que se lixe. não haveria retrovisor voador que me mudasse o estado de espírito. além de que o mundo multireproduzido nos cacos sobreviventes tem muito mais interesse.
um espelho é um espelho é um espelho é um espelho...

outubro 04, 2008

prémios IgNobel 2008

um pouco de IgCiência, para variar: dia 2 de Outubro foram anunciados os prémios IgNobel 2008. ficam aqui as ideias dos trabalhos premiados. para mais info seguir o link.
  • Biologia:
    descoberta de que as pulgas dos cães saltam mais alto do que as pulgas dos gatos.

  • Nutrição:
    transformação do som de uma batata frita, electronicamente, para que a pessoa ao mastigar a batata acredite que é mais estaladiça e fresca do que de facto é.

  • Economia:
    descoberta da influência do ciclo-ovulatório das profissionais de dança do ventre sobre as suas gorjetas.

  • Física:
    prova matemática de que cordas e cabelos, ou praticamente tudo, acaba inevitavelmente por enrolar-se em nós.

  • Medicina:
    demonstração de que medicamentos falsos de preço elevado são mais eficazes que os medicamentos falsos de baixo custo.

  • Química / 2 prémios:
    1) descoberta da Coca-Cola como um espermicida eficaz;
    2) descoberta da Coca-Cola como um espermicida ineficaz

  • Literatura:
    premeia o estudo intitulado "You Bastard: A Narrative Exploration of the Experience of Indignation within Organizations."


  • Arqueologia:
    medição de como o curso da História, ou pelo menos dos conteúdos de uma escavação arqueológica, podem ser baralhados pela acção de um armadilo.


  • Ciências Cognitivas:
    descoberta da capacidade de resolução de puzzles de organismos microbiológicos.

outubro 01, 2008

embedded misery

vislumbre de um nome escrito. nem tempo para um pensamento. um arrepio.

setembro 26, 2008

...

EMBEDDED
[fictions, by Lúcia David]

Embedded love is the worst kind you can catch. It's like a forever cold. You can't breath. You want to smile and want to cry. You just seat there and take it in full. You seat there waiting to stretch wings and go away but you can't move. You love so badly that you ache. You love so much that you hate yourself. You forget about your own existence. You can not see but the other and the beauty and you seat and contemplate, and stay still and feel just foolishly happy. Is this not totally unbearable! Totally incomprehensible! And so inappropriate! You, seating there growing roots, deeper and deeper, that feed on presents and love notes, promises of eternity and procreation. Until. And that punch comes. It hits you somewhere in the head and you fall down and you taste the musty flavour of your dirty carpet and the salt of your tears, and you try to breath and it's all blocked and bloody. And then, Only then! you grab the chair where you have been just seating and start to smash the furniture and the windows and the china presents, but then it's too late! Your heart is already broken and your veins poisoned, and your brain has expired. Now there's only embedded misery to take on board.

[ka,set08]

setembro 24, 2008

the Greek words to describe the different ways of love*

porneia:is love of a child for its mother, love that is nourished by the other. Vital need, consuming love. To make of the other an object. Love that fills a void. There's always a child inside us.

pothos:is love as a lack, the need to be loved, recognised.

eros:is the winged god (winged passion, phallus with wings). Desire for the beautiful, the good, dependence and consummation. It awakens aspiration towards beauty. To rediscover by experiencing the sacred.

philia:is love for friends, emergence of the other person as a subject. Phylia has four layers:
philia physike:

is love for family (blood and flesh), recognising the child as an extension of oneself.


philia erotike:

is physical attraction, without the act itself. Two souls attracted to each other. Presence that awakens us, that makes us grow.
philia hetarike:

is love for a friend, listening to the other, his difference, his problems. Love as exchange.
philia xenike:

is love for the stranger, hospitality, loving difference, emergence of alterity.
mania:is passion, dependence, jealousy, possession, exclusivity. Captive love (I want you to myself).

storge:is tenderness. The heart that is present, heart on the palm, it gives itself expecting less in return.

harmonia:is love in silence, harmony in breaths, to be on the same wavelength, simple, a togetherness on a mystical level, not dependent (we meet as though we had only separated yesterday).

charis:is love celebrating, praise, joy given freely, offered. The thanks to the gods. Gratuitous, beauty that gives itself.

agape:is absolute love, love of God, the source. Love that springs from the source, that gives itself. A birth of a love that is ready to renounce itself. Love that makes love grow in the other. The fullness of love, plenitude.

eunoia:is goodwill, love without expectation of return, devotion, compassion, without the desire to be desired. Spiritual level of love.

*excerpt taken from the in-i performance booklet



La Binoche e Akram Khan: In-I

In-I, uma co-produção promovida pelo National Theatre, que desafiou os conhecidos actriz e coreógrafo a lançarem-se no espaço do palco, explorando vertentes criativas que à partida seriam estranhas ao corpo de cada um deles. Akram transforma Juliette numa performer, Juliette incentiva as capacidades teatrais de Akram. durante meses trabalharam em conjunto sobre as diferentes vertentes do amor. em palco, resultou uma performance cronológica sobre os sentimentos no âmago de uma comum relação de casal. desde a paixão deslumbrada até ao sentimento mais maduro e terno que associo ao crescimento, no tempo, de uma relação duradoura, ainda que os caminhos possam ter as suas encruzilhadas mais ou menos problemáticas (a sobrevivência, associada ao amor). é nestas encruzilhadas que se situa o espaço explorado quer pela dança, quer pela interpretação do texto que a acompanha.

também o espectáculo tem os seus momentos altos e baixos. a encenação, minimal mas extremamente eficiente (uma parede móvel e iluminação pensada ao detalhe) tem a assinatura de Anish Kapoor, artista que já me tinha impressionado com a sua instalação na Tate Modern, Marsyas. Os duos de dança entre Khan e Binoche podem ser ditos simples quando comparados com outros trabalhos do coreógrafo, mas resultam muito bem, mostrando o trabalho soberbo que Juliette fez para chegar a este nível de dança, e transmitindo a grande empatia que existe em palco entre os dois.

a mais valia do espectáculo saltou do programa do espectáculo. a constatação da representatividade linguística da palavra Amor na língua grega. são 14 as palavras que definem 14 formas de Amor. irei transcrevê-las. Juliette Binoche ainda lança o desafio: completar o conjunto com novas entradas.

teatro e dança: etiqueta que assenta sobre este post que nem miolo de noz dentro da sua casca.

kaparazza

tomava o meu mocha, sentada nos degraus da cafetaria à entrada do royal national theatre, preparando-me para a experiência das 19h. passa um vulto, dirigindo-se ao cantinho dos degraus e da coluna. alto, muito alto, botas de montar, cigarrilha, esbelto. ali se senta a ler o jornal. a três ou quatro metros de mim. provavelmente também esperando. um vulto charmoso, muuuito charmoso, Aquele charme que vem da experiência, da idade... confesso, bloqueei. e havia tanto assunto que poderia ter colocado ali nos degraus. dá para ver quem é?
nada de chamar-me nomes feios!!!!

/

[ka@set08]

setembro 19, 2008

um companheiro de férias

o livro é pequeno, 102 páginas, nove pequenos contos de Djuna Barnes, sob o título Uma Noite Entre os Cavalos. elemento da selecção de companheiros de múltiplas viagens. passaram seis semanas. só ontem me abandonou, companhia permanente salteada por outras leituras.

os contos de Djuna abrem-se a partir de situações simples, de um quotidiano já distante da dinâmica do mundo do Hoje, mas os carácteres humanos que lhe servem de base podem facilmente ser universalizados intemporalmente. pequenas loucuras ou obsessões, valores humanos, pressupostos sociais... desenvolvem-se numa trama hermética, com buracos narrativos que levam o leitor a passear-se pelas poucas páginas de cada conto, relendo do fim para o princípio, em busca de caminhos ou pequenas pistas. no fim esperam-nos (quase) sempre doses tipo shot de crueza/crueldade humanas. para que aprendamos a reconhecer os seus sinais, ou para compreender outras dimensões que nos escapam na rotina fechada dos dias.

o conto que mais me demorou a digerir intitula-se "O coelho". noutro registo, o peso das aparências e suas consequências estão bem marcados no conto que dá o nome ao livro.

setembro 05, 2008

dia de chuva miudinha e densa, aperitivo a Porto de novembro, em setembro.era suposto haver uns aviõezinhos malucos por aqui. estiveram silenciosos. e eu não saboreei o vento no rosto. lembrei-me de uma foto que recebi faz um ano. avião a pique sobre o douro. na memória começou a tocar uma das minhas músicas preferidas da tori, daquelas de ouvir em repetição.

o vídeo é fatela mas mesmo assim...

setembro 03, 2008

retrato aberto

fotografia-filme captada entre Albergaria e o IC2, ago08:

asfalto novo, faixas largas, uma longa curva à esquerda a pronunciar a descida da montanha. à entrada da curva e em linha de vista, uma saída em terra batida para um jovem eucaliptal. a meio, uma rapariga sentada num caixote, sobre os rastos de tractores.

à sua direita, um guarda sol fechado espetado na borda do caminho. ela, sentada sobre um caixote, de saia curta azul bebé, perna trocada, de botas escuras, provocantes, cabelo farto apanhado de forma simples, casaco rosa. imagino-lhe o rosto pintado.

ela mostrando-se, montra perfeita.
fazia algo...

na rápida aproximação à curva, apreendo a sua imagem e o seu gesto, o seu entretém.

sentada, de perna trocada, à entrada do eucaliptal quase no topo do monte, a fazer renda.

deveria ter uns 20, não mais do que 30.

agosto 31, 2008

número mágico do dia

107!!!

promete que jura?

[Josué para Dora, no Central do Brasil, de Walter Salles, 1998, revisto na Dois, hoje...]

agosto 27, 2008

deambulação sonora

ou ...

the trick is to keep bleeding


porque é sempre assim que a canto.
talvez me faça mais sentido assim.
não só se sobrevive, como se sente.

foi assim que acabaram estas deambulações. revivalismo em repeat:


[The trick is to keep breathing, Garbage]

deambulações silênciosas

no princípio era o silêncio aconchegado pelo calor,



... de topo em topo,


[ka08,monsanto da beira]

... busca de abrigo sob o peso da montanha...


[ka08,monsanto da beira]
... recreando memórias...


[ka08,monsanto da beira]
... ou descobrindo novos percursos.


[ka08,sever do vouga]
... silêncio.

... silêncio quebrado por vozes humanas, e...

... matar saudades.


[chezka08]
... marés vivas interpretadas a "6 olhos".

... A lua dominando A noite, O sol dominando O dia.


[ka08,sao jacinto]

... regresso a um certo silêncio contemplativo, a quatro olhos.


[ka08,fafe,pitões das júnias]

... entrecortado pela simplicidade da rotina,


[ka08,pitões das júnias]

... e pela imponência do lugar.


[ka08,gerês]

... cabril, fafião e arado.


[anab e ka, 08]

... para chegar a múltiplas fronteiras.



... "- Sob a garra dos pés a fraga dura,
E o bico a picar estrelas verdadeiras..."


[ka08, gerês/lamas]